O espectáculo da execução

 Imagem do filme Changeling, de Clint Eastwood (2008)
Vídeo: http://www.viddler.com/v/65876ae0

     A punição pouco a pouco deixou de ser uma cena.¹

     Há cerca de um ano vi pela primeira vez o filme Changeling (ou A Troca, em português), que passava na televisão. 

     Em 1928, em Los Angeles, Christine Collins (Angelina Jolie), uma mãe solteira, quando chega do trabalho ao fim da tarde, apercebe-se que o seu filho não está em casa. À medida que as horas passavam a sua preocupação e ansiedade cresciam, até que acabou por informar a polícia do desaparecimento da criança. Dias mais tarde, a polícia de Los Angeles (LAPD) entrega o filho à mãe, mas esta alega que aquele não é o seu filho. Quanto mais ela insiste, mais a polícia tem motivos para fazer dela uma mulher louca, mentirosa e histérica, o que não corresponde à verdade.

Passam meses e Christine não desiste de provar que a criança que lhe entregaram não é o seu filho, temendo também pela segurança deste. Mais tarde, um polícia descobre um rancho onde estão enterrados vários cadáveres de crianças. Esta propriedade pertence a um canadiano ilegal, Gordon Northcott (Jason Butler Harner), que raptava crianças e as matava de uma forma hedionda.

     Após dois anos de prisão, Gordon é condenado à morte por enforcamento.
     A última execução no estado da Califórnia teve lugar em janeiro de 2006, tornando-se este o 18º estado norte-americano a abolir a morte como pena máxima no seu direito penal.

     Apesar de em 1928 ainda ser comum a pena de morte (e admitindo que o filme retrata muito bem aquela época), o procedimento já não era tão «aparatoso» como até ao fim do século XVIII e início do XIX, em que uma condenação à morte era um espectáculo gratuito para quem quisesse assistir. Os enforcamentos, esquartejamentos, as guilhotinas e as grandes fogueiras em praça pública foram-se extinguindo. O espectáculo deixa de existir e o castigo passa a ser apenas um acto de administração, à «porta fechada». No filme, o enforcamento é feito na prisão onde Gordon estava detido e só assistem os pais das crianças que ele assassinou.

     Até aos dias de hoje, a punição física tem vindo a desaparecer, dando lugar a uma pena de carácter correctivo (as prisões). Criaram-se leis para que a punição não seja subjectiva, mas justa para cada caso, individualmente.

       

¹ FOUCAULT, Michel (1987) Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petropólis: Vozes. ISBN 85.326.0508-7