sexta-feira, 30 de novembro de 2012


Leopoldina & Popota, uma aventura no mundo do marketing.



Com o aproximar da época natalícia, bombardeamentos de anúncios televisivos começam, e as vedetas nacionais, Popota e Leopoldina iniciam a manobra de encantamento juvenil. Mas porém, com o passar dos anos, algumas diferenças tem passado á vista de todos, ambas se apresentam visualmente mais magras e sensuais.
- Porquê? – Pergunto eu.
Acho que se chama marketing. Passo a explicar – o ponto-chave do marketing passa pela identificação de alvos, alvos esses que no início da criação das personagens se centravam num público, neste caso, infantil.



Na campanha publicitária inicial, as expectativas são elevadas, será ou não a personagem capaz de cativar milhões de crianças? Após o Natal, os resultados comprovam, as personagens foram um sucesso.
Seguindo o pensamento de um marketeer, a estratégia passa por alargar o público, fazendo chegar a campanha a um público já adolescente, público esse já mais astuto e difícil de agradar, logo os anúncios terão de ser extremamente apelativos.




Sendo a
adolescência uma época ligeiramente mais conturbada que a infância, com extremo interesse sobre a descoberta do nosso próprio corpo e dos que nos rodeiam, e passando ainda por começarmos a delinear os nossos gostos pessoais, a campanha terá um ênfase na música mais moderna e com ritmos mais quentes e dançáveis e as suas protagonistas serão, á luz dos adolescentes, muito mais bonitas, mais femininas, ultra arranjadas, com cores apelativas e essencialmente, mais magras, cultivando o culto estereotipado de que magreza é beleza.



Prematuramente estes jovens são incubados num mundo em que se não forem iguais às suas personagens, os seus ídolos, não são suficientemente “fixes”, tentando ao máximo atingir uma linha escultural que não será própria para estas idades.

Para além disto, esta alusão a um certo tipo de beleza, promove cada vez mais cedo, problemas como o bulling, a bulimia ou a anorexia.




E é com este processo de segmentação de mercado, em que um produto tem de servir as necessidades de determinado público-alvo, pré-determinado e definido, tendo em conta gostos semelhantes que se encontra o cerne do marketing.

Contribuindo assim para um fetichismo de mercadorias que, segundo Marx, é um processo em que o objecto natural adquire diferentes simbolismos como “subtileza metafísica e estravagâncias teológicas” quando é trabalhado pelo homem. Esta matéria ao ser transformada em mercadoria passa a ser uma “coisa sensivelmente sobre-sensível” carregada de misticismo que, advém das formas sociais que a matéria adquire ao ser formatada por homens para outros homens, uma concretização do trabalho, atribuindo ao objecto uma autonomia e uma vivência exterior a uma mercadoria.



Leopoldina em 2008 e em 2009.



quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Meditação sobre uma laranja.


Meditação sobre uma laranja.




Quem poderia imaginar uma, sem a ter visto primeiro? Doce por dentro, amarga por fora, antecipo e não me engano. 
Pois relacionamos os fenómenos (semiótica) às coisas. Mas na verdade tudo o que vemos são aparências das mesmas, e tudo pode ser relacionado com tudo, apenas depende da nossa capacidade.
É curiosa a época em que vivemos, onde tudo mais cedo ou mais tarde, tem de revelar o seu segredo através de conceitos.
Arranco uma laranja da árvore, agarro-a com os dedos, descasco-a com todo o cuidado e mordo um gomo, que me sabe a laranja.
E desta forma a laranja depois de ser alvo de investimento de trabalho sai do mundo natural para passar a pertencer ao mundo cultural, do qual a partir do momento em que entramos não podemos sair, pois a laranja depois de colhida não volta a laranjeira.
As clementinas e as tangerinas são claramente da mesma família, e os limões primos afastados. 
Sendo estas relações designadas por paradigmas, ou seja, varias possibilidades e características de escolha.
Contudo tenho pena de não poder provar o fruto da árvore original.

"How much does your life weight?"


Imagine por um segundo que carrega consigo uma mochila. Quero que ponha lá dentro tudo o que tem. Começando pelas coisas pequenas, cartões de crédito, papéis... Depois coloca coisas um pouco maiores, roupa, sapatos, a sua televisão... Por agora, a sua mochila já deve estar bastante pesada. Passamos então para coisas ainda maiores, o sofá, o carro, a casa... Quero que coloque tudo dentro da mochila. Agora, vai enchê-la com pessoas. Comece pelos conhecidos, amigos dos amigos, colegas de trabalho. Depois, as pessoas a quem confia os segredos mais íntimos, irmãos e irmãs, os seus filhos, os seus pais, e finalmente o seu marido ou mulher, namorado ou namorada... Todos dentro da mochila. Sinta o peso dessa sua mochila. Não se engane, as suas relações são o componente mais pesado da sua vida. Todas as negociações, argumentos, segredos, compromissos... Quanto mais devagar nos movemos mais depressa morremos. Não se engane: mover é viver.
Este é o lema de vida do protagonista do filme Up In The Air, interpretado por George Clooney. Este personagem vive completamente alienado dos outros, talvez até dele mesmo. O seu emprego é despedir trabalhadores de empresas alheias e para tal viaja pelo país durante praticamente o ano inteiro. Assim, adopta um estilo de vida que não lhe permite criar qualquer tipo de relação, nem com sítios nem com pessoas. Nada lhe é familiar a não ser a constante movimentação. E a verdade é que ele parece viver satisfeito com a sua “mochila vazia”, sem perceber que a frieza e distanciamento que essa mochila exige, acabaram por absorver também a sua própria identidade. Vive desprendido de tudo, sem qualquer compromisso emocional, longe da família e sem intenções de casar ou ter filhos, e o seu objectivo de vida acaba por ser juntar milhas até atingir um determinado número, algo tão vazio quanto a sua mochila.
Também nós, alienados da realidade ao ver o filme, somos inicialmente levados a acreditar pelo produtor que essa sensação de aparente liberdade é desejável. Mas à medida que nos deixamos envolver pela história, vamos sentindo o peso sobre os ombros a aumentar, tal como o protagonista começa a sentir quando pela primeira vez se envolve emocionalmente com algo exterior à rotina que o envolve a ele: uma mulher. Desenrolam-se então uma série de acontecimentos que vão fazendo com que o protagonista se comece a questionar sobre o seu modo de vida, ponderando como seria “assentar os pés na terra”, desalienar-se...
Considero assim este filme, um bom exemplo da aplicação do conceito de alienação tratado por Karl Marx. Apresenta-nos a alienação como resultado da sociedade de consumo actual, das exigências do mercado, e até do desenvolvimento das tecnologias e da mobilidade a que hoje temos acesso muito facilmente.




Não faz sentido!

Não querendo repetir o que já discutimos em aula apresento uma reflexão directamente relacionada com a ideia em geral de ideologia:


Como assim, o ser humano? Milhões de anos de coisas a acontecer no vazio, planetas para aqui e para ali, água, micróbios e de repente o quê? Dentro de todo um infinito de probabilidades surge um ser capaz de conceber ideias, comunicá-las, construir, experimentar sensações, capaz de tudo. E nós achamos que é normal. Não seríamos capazes sequer de conceber outra realidade. 

E como assim, trabalhar? É mesmo verdade, as pessoas desde que nascem entram neste esquema que é aprender para poder trabalhar até morrer, não é mentira. Trabalhar até morrer! Já vimos que os animais não trabalham e sobrevivem, mas nós não podemos escapar ao horário que molda as nossas vidas. Não podemos mesmo. E nós achamos isto normal, quer dizer, todos os dias da minha vida sair de manhã para fazer uma coisa qualquer que possivelmente até nem me diz nada, para voltar a casa à noite sistematicamente. É normal.

E como se não bastásse, estou eu a andar na rua muito bem e passa uma pessoa que não conheço. Ignoramo-nos mutuamente, no sentido da palavra, essa pessoa não podia ter menos importância para mim. Mas porquê? Essa pessoa tem tanto mais em comum comigo quanto eu poderia imaginar! É um ser humano tal como eu, tem nariz como eu, dois olhos como eu, orelhas, pernas, braços... E no entanto nem todas essas semelhanças justificam uma simples interacção.

Mais dentro deste ultimo raciocínio:
Toda a gente tem uma barreira ideológica. Vive dentro dessa barreira, trá-la para todo o lado. É a barreira que deixa as pessoas inquietas quando alguém as aborda, um aviso de que o que está a acontecer é uma irregularidade, para ter atenção. É protectora, e as pessoas criam-na exactamente pela necessidade de segurança. Mas apesar de protectoras, as barreiras destroem todas as possibilidades de experiência no quotidiano, no presente (tempo em que decorre a própria vida), para passar a dizer às pessoas que o que importa realmente é o futuro, como lá chegar e o que fazer a seguir. As pessoas vivem à espera. Entro no metro e o que vejo senão pessoas à espera, cada uma dentro da sua barreira, a fingir que não existe ninguém naquele metro para além de si próprio. Pessoas caladas, com olhar distante, à espera. A pessoa que está mesmo à sua frente podia ser a pessoa com quem teriam a conversa mais interessante do mundo, a pessoa ao lado podia ser o amor da sua vida. E quase de certeza que são mesmo, mas ninguém se atreve a interagir com ninguém! Eu próprio estou preso na minha barreira enquanto vejo o desenrolar deste desespectáculo, calado, quieto como todos os outros. Hora de ponta, toda a gente apertada lá para dentro. As pessoas literalmente tocam-se, encostam-se umas às outras, e mesmo assim, precisam de fingir que não têm nada a ver com ninguém! Cada um olha para o seu lado, não se passa nada, estou só aqui à espera... à espera do futuro, à espera de ficar à espera. Tudo isto por medo de acabar com o conforto da sua barreira. E se conseguissemos ser superiores à nossa barreira? Dominá-la em vez de ela nos dominar. Falar com alguém que não conheçamos só porque nos apetece, sem ter de fingir um contexto ou ficar à espera de um pretexto, que é exactamente o que se faz nessa situação, um teatro. É muito dificil, a barreira diz-nos que é melhor não, o conjunto de todas as barreiras (o consenso) torna a situação perigosa. Se tentásse o mais provável seria que a barreira da pessoa que abordo a impeça de manter essa proximidade que estou a tentar estabelecer. Mas por outro lado se eu conseguisse aceitar a pura realidade de que não teria mal nenhum em tentar, porque não tem mesmo (e mesmo se não funcionásse não perderia nada), seria capaz de dar esse grande passo para a liberdade.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Bipartição do ser

   O passado é carregado de vivências que se transformam em memórias, juntamente com a educação contribuem para a formação do sujeito. Assume-se assim um carácter de universalidade. Tzvetan Todorov (filosofo e linguista búlgaro) considera que existe um grande risco de se cair no exagero ao identificarmos características universalistas de uma cultura em outra.


Todos os processos de assimilação da cultura e situações diárias levam a questionar-nos “ quem realmente somos? ”. Qualquer pessoas que se desenvolveu na sociedade actual deve sempre tentar passar as margem do comum e do normal pois tudo que é dentro desses dois conceitos não leva a expansão nem ao desenvolvimento. 

   Consciente ou inconscientemente qualquer ser humano apresenta características ou gostos que possibilitam a existência de um grupo ou uma classe. Mesmo tendo conhecimento disso cada pessoa acha que é única e tem características exclusivas. Vivendo nessa ilusão, sem se dar por isso, a única verdade que pode-se extrair é que construiu-se o sujeito que não é aquilo que é, mas sim um sujeito que é aquilo que apresenta. Jaques Lacan afirma “ o ser fractura-se, de uma modo extraordinário, entre o seu ser e a sua parecença…”

 Essa bipartição do ser leva ao ridículo a questão colocada anteriormente. Surge uma outra questão na mente será que somos ou representamos?


    No dia-a-dia o ser humano demonstra aquilo que acha que deve ser. Essa projecção é formada pelo gosto da sociedade, cultura e educação. Somos aquilo que de certa forma “está na moda” de sermos, perdendo a nossa própria essência. Assim somos todos sujeitos portadores de uma mascara, poucos coceguem conhecer verdadeiramente o seu próprio ser. 

Alienei-me da minha verdade.

por João Soares

"Without alienation, there can be no politics" Arthur Miller

Hoje esqueci-me das chaves de casa na porta, do lado de fora. Deixei-as fora da minha zona de segurança, fora do que me é quente, conhecido; deixei a solução da minha intimidade, da minha perfeita bolha, ali, disponível, pronta a ser usada por qualquer um. 

Mal me apercebi do sucedido, comecei a correr naquele sentido. Encontrava-me a 500m de distância - nunca havia percorrido aquele percurso de forma tão precisa, rápida e mecânica. Naqueles três minutos, que pareceram trinta, apercebi-me, num momento de epifania, de tudo o que estava a mexer e a remoer em mim; no meu corpo, manipulado e influenciado por um certo contexto, a que pertencia. Uma sensação de desprotecção tomou conta de mim: receio pela minha mãe, que já me acha suficientemente desatenta, por toda a gente que não me é familiar e pelas suas respectivas intenções - que cenário fácil e apetecível, uma forte porta, com tudo no devido lugar. 

Alienada de tudo, a obsessão escolheu dominar até as partes mortas, que sobrevivem em mim.

Observei-me lá de cima, era agora uma partícula suspensa no ar, que escolheu reparar naquela pessoa, com aquele comportamento, semelhante a si mesma. 

Quando, aos 11 anos, me concederam uma cópia da chave, senti-me livre, crescida e capaz. Aquele pedaço de metal - mecanicamente recortado e moldado - era responsabilidade, era um pacto, era liberdade. Não, não era!!! Hoje não me senti livre - muito pelo contrário. Senti-me aprisionada, e isso revoltou-me! Porque só agora, oito anos passados, é que senti a clarividência e a verdade do que transporto comigo diariamente; do que protejo, face ao significado e peso que tem.

Eu não quero ter chaves de casa, eu não quero precisar de chaves para entrar em Casa, eu não quero entrar em alvoroço por perder uma coisa que me impede de entrar no meu lugar-comum. 
Principalmente, não quero ter medo daquilo que não é mais nem menos do que o meu reflexo, a minha verdade reflectida numa metáfora matreira.

"Na Terra de Sangue e Mel"




Tendo como pano de fundo a Guerra da Bósnia, que destroçou a região dos Balcãs nos anos 90, o filme Na Terra de Sangue e Mel conta a história de Danijel e Ajla (dois bósnios de diferentes zonas) e de um brutal conflito étnico. Danijel, um agente bósnio/sérvio da polícia e Ajla, uma artista bósnia/muçulmana, estão juntos antes da Guerra, mas a sua relação altera-se à medida que a violência irrompe no território. Algum tempo depois, Danijel surge às ordens do seu pai, o General Nebojsa Vukojevich, como oficial no Exército Bósnio/Sérvio. Ele e Ajla encontram-se face a face quando esta é retirada pelas tropas do apartamento que partilha com a irmã. 
Para defender Ajla das habituais violações de que eram alvo as mulheres muçulmanas, Danijel aprisiona-a num quarto particular, onde a relação vai evoluindo influenciada pelas circunstâncias da guerra. À medida que o conflito vai tomando conta das suas vidas, a relação entre eles muda, os motivos e a conexão entre ambos tornam-se ambíguos e deixam de saber a quem devem lealdade. Na Terra de Sangue e Mel retrata um incrível preço emocional, moral e físico que a Guerra exige ao ser humano, bem como as consequências que derivam da falta de vontade política para intervir numa sociedade abalada pelo conflito.
Por outro lado, a estreia de Angelina Jolie na realização não é, como preconceituosamente se podia esperar, sobre uma temática leve ou fútil. Em causa, está o complicado conflito na Bósnia do início dos anos 90 que, independentemente das diferenças políticas e religiosas entre bósnios muçulmanos, sérvios ortodoxos e croatas católicos, causou feridas tremendas entre vizinhos e amigos de outrora e trouxe um verdadeiro rasto de selvajaria que abalou os princípios mais básicos da humanidade.
Não se trata de uma visão romantizada ou sensacionalista do conflito. Este filme manifesta uma abordagem complexa, mostrando essencialmente a transformação humana sofrida com a barbaridade de todo o acontecimento.
É um filme interessante que comprova que, por trás de uma actriz com carreira em filmes maioritariamente medíocres ou que são meros produtos de consumo massificado, pode estar uma realizadora a ter em conta no futuro. Contextualizo este filme na disciplina de Cultura Visual por vários factores (para além dos que se interpretam do que referi anteriormente), entre eles o facto de ser realizado por uma mulher mas apelar a um "olhar masculino", o facto de retratar alguns dos actos mais cruéis que o ser humano exerce sobre si mesmo (indo contra os princípios básicos que há milhares de anos vem a construir) e pelo misto de culturas e ideologias (que originam tremendos conflitos) separadas por vezes por um mero muro.

Kidult - Visual Dictatorship

Kidult aka KID, nasceu em Paris e actualmente vive em Nova Yorque. Ele é a criança terrivel, "terrible kid" que se revolta de forma simples , legitima e sem limites com um extintor , que serve de "lata".
Podemos considerar  Kidult como um vandalo, um tagger e um writter.. "Não existe ordem sem cãos o graffiti é a primeira forma de revolta contra tudo . A revolução vai ser o próximo passo, e isto está verdadeiramente inserido na minha forma de trabalho" Kidult não deixa de se revoltar contra o consumo intenso , outro fator de alienação segundo o Karl Marx.
A expansão deste, é a exigência da própria produção, ou seja o aumento de produção depende também do aumento do consumo superfulo. Com isto a sociedade capitalista ve-se obrigada a criar um consumo artificial e superficial, criando necessidades desnecessárias para continuar a produzir.
Terrible Kid revolta-se contra as marcas e o capitalismo. Estas que se apoderam de uma cultura que é o graffiti, para inserirem no mercado em troca de dinheiro e fama. Marcas de grande capital e luxo, que apoderando-se desta cultura por riqueza e fama , são mais um exemplo de como  a economia em que vivemos é como uma disfunção cerebral.
Kidult responde com actos de vandalismo/graffiti a essas marcas...

“All these retail outlets have once used graffiti as a commercial tool to get more money and be “cool” without knowing anything about the culture. I didn’t simply say “hello” to them. If they really like graffiti, I just gave them what they love.”

nº6499

A vaidade pelo consumismo do pós-guerra

O pós guerra teve uma grande influência na produção industrial e na apropriação dos produtos pelo consumidor.
Os materiais desenvolvidos para a guerra, foram aproveitados mais tarde na industria gerando novos produtos. Um produto em especial como o electrodoméstico, foi responsável pela solução de duas questões: a continuação produtiva das fábricas e a recolocação dos soldados no mercado de trabalho. No fim da guerra, as mulheres estavam a ocupar postos de trabalho que antes eram dos homens, e o governo desejava que elas voltassem para os seus afazeres domésticos. Surge então uma grande variedade de electrodomésticos e as indústrias que os produziam criaram uma identificação, através de campanhas publicitárias, com o público consumidor feminino. O design tenta então reafirmar o papel da mulher na família, como dona de casa, fornecendo melhorias e facilidades no seu trabalho doméstico. Um exemplo que representa bem esta realidade é o filme de 1958, “Mon Oncle” de Jacques Tati. Este invoca muito bem o fervor exacerbado pelo consumismo e pelo modernismo, que permanece tremendamente actual nos dias de hoje. Representa o tal período pós-guerra em França, retratando a evolução do design em contraste com os ambientes tradicionais vividos num bairro normal francês. Apesar da crítica evidente à mania da modernidade, o filme diverte-se mais em explorar a mecânica da casa do que em traçar um comentário mais profundo sobre o assunto. Fica claro no filme que todas as "geringonças têm uma função muito maior do que aquelas inerentes a elas: a ostentação.
A outra solução do pós-guerra estava na readaptação da produção nas indústrias, ou seja, a empresa que produzia tanques de guerra iria agora produzir carros, as que produziam aviões de guerra, aviões comerciais. Assim surge mais um vasto campo para a actuação do designer. Neste âmbito surge o famoso citroen “Déesse” (A deusa), que só o nome fala por si mesmo. A Citroen teve 12.000 pedidos para o DS até o final do primeiro dia, e logo se tornou conhecido como o meio de transporte preferido entre os cidadãos mais ricos e poderosos da França. Ora estes dois campos da industria que entraram em contacto, quer com o mundo feminino, quer com o mundo masculinho tornaram-se cada vez mais confortáveis e adaptáveis à estetica dos sentidos humanos, “toca-se com a mão nas chapas, nas junturas, apalpam-se os estofos e as almofadas”. Há com que uma certa moldagem do objecto à pessoa, com que se um completasse o outro. No novo citroen “o volante vazio, ei-lo mais doméstico, mais de acordo com essa sublimação da utensilagem (...) o quadro de condução assemelha-se mais à banca de uma cozinha moderna”. Uma cozinha moderna, tão confortável, tão clean, tão high-tech, tão bem programada como a do filme de Jacques Tati. As pessoas deslumbram-se com tais “objectos perfeitamente mágicos” e que “caiem manifestamente do céu”. São iludidas por estes “ambientes futuristas” e pela beleza inerente a eles. No entanto, tudo isto não passa de uma manipulação da sociedade de consumo, envolvida nos valores próprios de um novo mercado. O consumo passou a reger a dinâmica do sistema e a sociedade foi impulsionada a consumir mais automóveis, electrodomésticos, roupas... a demanda material aumentou e a lógica da quantidade dominou esta época.
Assim conclui com a seguinte pergunta: Será que neste estereótipo de vivência moderna são os objectos a apropriarem se de nós ou será que somos nós que nos apropriamos deles?







A Grande Arte e a Arte Vulgar


Todos nós temos o que Karl Marx chama de «falsa consciência». A nossa vida determina a nossa consciência. Ou seja, a nossa vivência e a «casca social» que nos rodeia, a ideologia, vai determinar a forma como vemos as coisas.
           
É aí, e na contradição entre arte e mercado, que reside a diferença entre a ‘grande’ arte e a arte ‘vulgar’.

Isto é, a arte é uma marca de expressão individual ligada à capacidade de se ser universal, de se ser transversal. O artista é aquele que consegue romper com essa tal ‘«casca cultural» que nos rodeia’.
            
Utilizando exemplos fáceis, podemos referir John Lennon ou Bob Dylan. É inegável o impacto que músicas como Working Class Hero, Imagine, Mr. Tambourine Man e Like a Rolling Stone ainda hoje têm, quer em Portugal, quer na China.
           
No mundo das artes visuais podemos considerar a pintura a óleo na Europa, entre 1500 e 1900. Durante esse período foram pintados, e disseminados, centenas de milhares de quadros. Todos esses quadros, embora de grande virtuosidade, não passavam de superficiais representações do que o dinheiro poderia comprar; isto porque, como em qualquer período da história, a arte servia os interesses das classes dominantes, e estas dependiam do novo poder capital.
           
Deste período, muitas das poucas obras que são hoje consideradas ‘grandes’, eram, na altura, vendidas de artista para artista (as obras de Adriaen Brower, por exemplo).
Adraen Brower, «Os fumadores»

Pode dizer-se que, quando vender a sua produção se torna, para o artista, mais importante do que o seu significado, ele ficará condicionado, será lhe impossível libertar-se das normas da tradição, será impossível de «se ver a si próprio como um pintor que nega a visão do pintor» (John Berger), será lhe impossível de ser universal, de ser transversal
.

Barbara Kruger

A sociedade em que vivemos apresenta-nos uma série de produtos e serviços, tão vasta em variedade como em quantidade. Chegam até nós, os consumidores, através da publicidade, que está em todo o lado, a qualquer hora, persegue-nos,  e  não dá espaço nem oportunidade de  fuga, seja através da televisão, rádio, placares publicitários, internet, telefone ou correio, com o grande objectivo de nos mostrar que determinado produto ou serviço é indispensável à nossa sobrevivência. 
Não se trata de ser ou não indispensável à nossa sobrevivência, pois esta não depende da aquisição de um abre-latas eléctrico, seguro dentário ou Iphone. Embora  cada vez  mais, acreditemos nessa falsa realidade, num pensamento que se vai impondo de forma inconsciente nas nossas vidas e hábitos, fruto dessa variedade de produtos e serviços que nos são vendidos pela abundância de publicidade a que somos sujeitos diariamente. 
Vivemos e alimentamos uma busca incessante por ser, por pertencer, por viver feliz. Jean Baudrillard afirma que a razão de viver do homem assenta na busca da felicidade, toda a razão da sociedade consumista é esta procura interminável por algo que acredita poder comprar. 

Traispotting (1996)

No segmento inicial do filme Trainspotting, a personagem principal narra uma série de opções que a nossa sociedade toma de forma a se tentar enquadrar e pertencer, numa crítica às escolhas que nos definem enquanto pessoas, enquanto membros da sociedade e que definem variadíssimos aspectos das nossas vidas. 
São as escolhas de produtos, serviços e hábitos que consumimos na procura de uma identidade pessoal, que acaba por se difundir numa identidade social generalista de negação à identidade pessoal. 

"... 
Estou, estou na moda. 
É doce estar na moda, ainda que a moda
seja negar minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas,
todos os logotipos do mercado.
..."
Carlos Drummond de Andrade (1984) O corpo. Rio de Janeiro: Record, p. 85-87.

Escolher, escolher...





Uma característica que une todos os seres vivos é a comunicação. É necessário e está sempre presente, tenhamos ou não consciência.
Nesta reflexão abordarei apenas a comunicação enquanto discurso, diálogo, sendo que este é como uma linha de vida, tem um início, termina e no seu decorrer é composta por decisões que vão sendo tomadas, momento após momento.
Durante uma conversa, ao construir uma simples frase, muito esforço foi executado embora não tenhamos essa consciência.
Porque escolhemos aquela palavra para dizer e não outra?
E porquê a escolha daquela determinada palavra para vir a seguir?
Será que estava mais à mão?
Porquê?
Todo este processo é o mais delicado e ao mesmo tempo mais confuso, no entanto fluído, por não darmos conta destes micro segundos de pânico durante a ação, o que faz dela um ato estranhamente fascinante.
Imaginando um cérebro visto por dentro seria absolutamente divertido e interessante de ver a “correria” que se dá lá dentro, tão digno de ver como um teatro ou um filme no cinema.
Todo esse mundo de possibilidades das palavras que foram ditas e das que poderiam ter sido ditas, pode cair facilmente na teoria dos mundos paralelos, lá fundo, podemos ter utilizado todas as combinações de palavras, mas neste caso em particular, neste universo, escolhemos esta.
É notório que particamente ninguém se dá conta destes tais momentos, nos quais procuramos a palavra que vamos dizer a seguir, e ainda bem, caso contrário estaríamos “encravados” sempre que queremos dizer algo, a pensar e a avaliar a situação, bem como as consequências que seriam fruto dela, se disséssemos aquela e não a outra palavra.
Agora, olhando para esta reflexão posso concluir que esta mesmo já pertence ao sintagma, ao passado. Antes no mundo ideal (paradigma), mas agora descida para o mundo real. Também esta passagem de  mundos tem um carácter fortíssimo, cujo nos transmite até um certo sentido de poder. Somos capazes de mudar “coisas” de um mundo para o outro, sedo que o primeiro passo, é pensar.