segunda-feira, 10 de junho de 2013

Distinção segundo o género


Lee Friedlander (1934) 
fotografia


‘Ninguém nasce mulher, torna-se mulher.’ Simone de Beauvoir

Quando uma criança nasce, o seu género não é definido apenas pelo seu corpo, pelo sexo que o constitui. Há toda uma relação desta criança com o mundo que a envolve, com a sua educação. Educação essa que até os dias de hoje baseia-se muito no género feminino e masculino. Ao longo do nosso crescimento indicam-nos o que se deve fazer segundo cada género, o que é suposto fazer e o que nao é suposto fazer segundo a cultura em que estamos inseridos. 
Este costume esta inserido na nossa sociedade de forma implícita, esta distinção é tão óbvia que podemos deparar-mo-nos com, sem que nos faça pensar. Em muitos pormenores podemos assistir a esta distinção. Quando vamos a uma casa de banho pública existe sempre o símbolo para indicar a casa de banho das mulheres e a dos homens, e este é um dos exemplos mais óbvios, em muitas outras coisas existe a distinção segundo o sexo, se virmos um homem maquilhado, de sobrancelhas arranjadas, iremos estranhar, porque não é hábito. 
A fotografia de Lee Friedlander apenas confirma esta divisão de pensamento, pois, em primeira análise o que distinguimos é o corpo que está presente e se este é do género feminino ou masculino, e só depois é que analisámos o ambiente envolvente e a técnica fotografica. 
Este hábito da nossa cultura advém de há muito, define-nos em termos sociais. Enquanto seres da mesma espécie, esta distinção entre homem e mulher, ao longo dos tempos vai tentando ser menos evidente.

Richard Phillips e o prazer visual




RICHARD PHILLIPS
Lindsay III, 2012
Oil on linen
243.8 x 367 cm


Richard Phillips (1962)

As suas pinturas de hiper-realismo, de grande escala lembram-nos o estilo pictórico das revistas dos anos 1950, 1960, 1970, reflectindo as tradições culturais da imagem. Elaborado a partir de fotografias, o seu trabalho lida com a comercialização do homem, dos seus desejos, ideias, acções, identidade, sexualidade, política e desejos. Richard Phillips traduz as imagens em desenhos e pinturas através de um processo tradicional, e ao faze-lo tira partido da qualidade icônica das fotografias que os meios de comunicação partilham. Nos seus retratos close-up, os temas são essencialmente mulheres, tanto de revistas pornográficas como musicos, actores, politicos. O seu trabalho tem por base retratar pessoas famosas, importantes para a sociedade americana, e mais do que qualquer outro pintor contemporâneo do seu género, as imagens de Phillips alcançam um nível de reconhecimento fora do mundo da arte, estando directamente ligadas ao universo da moda, aos mídia, e ao cinema.
Nesta obra de Richard Phillips é evidente a conotação sexual de relação e poder que existe na imagem. Assim como acontece na publicidade, há um misto de emoções a nível sexual. A mulher é observada pelo homem, e simultaneamente exibe-se de forma provocadora, tendo uma grande carga erótica, é caracterizada enquanto objecto sexual passivo, de desejo. Transpõe prazer visual em que satisfaz o desejo do olhar masculino, atingindo assim o público alvo. Desta forma, as mulheres transportam em si o poder de serem olhadas e Richard Phillips torna isso evidente com as suas obras de caracter mais pop, comercial.

Referências 
weblog: http://www.gagosian.com/artists/richard-phillips


O Harém Ocidental

No Oriente, as raparigas nascem e são criadas em haréns. No Ocidente as raparigas nascem e crescem em casas da sua família. No Oriente as mulheres saem de casa quando um homem interessado negoceia o casamento com família da rapariga. No Ocidente a rapariga é livre de sair de casa dos pais, para estudar, trabalhar ou namorar sem casar.



No Ocidente, os homens sonham com o seu harém onde teriam ao seu dispor inúmeras mulheres virgens, no qual o festim orgástico seria pão nosso de cada dia. E, mais importante, sonham com a passividade sexual da mulher, sexo sem qualquer resistência. As mulheres estão ao dispor de todas as suas necessidades e fantasias. As imagens deste harém idealizado por ocidentais chegam de Mestres da Pintura como Ingres, Matisse, Delacroix e Picasso,  de filmes de Hollywood e através de fetiches pornográficos via internet. Todas estas imagens são moralmente aceites, moralmente banais, e socialmente reais.

Em Marrocos, por exemplo,  a roupa é feita à medida para as mulheres, nos armazéns pronto-a-vestir ocidentais, as mulheres são classificadas a números institucionais que funcionam como padrão de beleza. O poder ocidental reside em ditar o que uma mulher deve vestir e o aspecto que deve ter fazendo acreditar que a mulher tem o poder de decidir como, quando e o que vestir mas, na verdade, estão a ser controladas pelo assunto mais de ordem masculina do que feminina. Para além dos compromissos profissionais, a mulher ocidental acrescenta a dura batalha da “beleza”, esta que tem vindo a ser cada vez mais rigorosa, “quanto mais perto do poder as mulheres chegam, maiores se tornam as exigências do sacrifício e preocupação com o físico”(Wolf, 1991).

A mulher ocidental deverá ter consciência que envelhece e, ao contrário dos homens, a mulher não é como o Vinho do Porto. Com a idade, torna-se desinteressante sexualmente aos olhos da sociedade. Para isso a publicidade tem sempre a solução: por dia são dedicados metade dos anúncios publicitários à mulher ou como a mulher deve ser ou fazer para não se tornar desinteressante. Estudos realizados no Reino Unido (Janeiro 2004) mostram que 87% das raparigas entrevistadas se sentem infelizes com o seu corpo (dados Dove).

Será que somos tão diferentes das mulheres orientais? Será que somos livres e independentes? Estamos preparadas para assumir que temos mais semelhanças do que pensamos com o Harém Oriental?

Como mulheres ocidentais nascemos com a ideologia da beleza criada, na minha opinião, pelo sistema capitalista onde o tamanho S ou M da Zara é uma restrição pior do que o véu muçulmano. Ao contrário da mulher muçulmana que pode retirar o véu mudando de espaço, a mulher ocidental vive com um véu cravado no corpo, este que carrega o fardo da beleza.
Porém, problema surge quando não existe consciência que o fardo da beleza existe. A mulher muçulmana nasce destinada a viver com o véu, porém, está certa do seu papel naquela sociedade, tem consciência da prisão que a sociedade lhe reserva. Contudo a mulher do Ocidente vive num paraíso artificial de liberdade, de total emancipação, está repleta de falsa independência.

Nós, ocidentais, vivemos com uma venda que nos cega, essa que nos dá a sensação de liberdade. Nascemos e crescemos com um véu cravado, um véu invisível, psicológico bem mais complicado de eliminar pois não temos a noção que o transportamos. Vivemos também num harém,  ao contrário do harém Oriental que é físico, o nosso harém é psicológico e emocional e, mais uma vez, não reflectimos sobre a sua existência. Para acabar com essa venda teremos de perceber que não existem muitas diferenças entre o Oriente e o Ocidente. Que não existe o povo superior e desenvolvimento versus o povo inferior e atrasado. Somos todos seres à procura da real liberdade e, na minha opinião, a mulher ocidental está atrasada em relação à oriental pois, como disse, não tem consciência da verdadeira realidade.