No Oriente, as raparigas nascem e são criadas em haréns. No
Ocidente as raparigas nascem e crescem em casas da sua família. No Oriente as
mulheres saem de casa quando um homem interessado negoceia o casamento com
família da rapariga. No Ocidente a rapariga é livre de sair de casa dos pais,
para estudar, trabalhar ou namorar sem casar.
No Ocidente, os homens sonham com o seu harém onde teriam ao
seu dispor inúmeras mulheres virgens, no qual o festim orgástico seria pão
nosso de cada dia. E, mais importante, sonham com a passividade sexual da
mulher, sexo sem qualquer resistência. As mulheres estão ao dispor de todas as
suas necessidades e fantasias. As imagens deste harém idealizado por ocidentais
chegam de Mestres da Pintura como Ingres, Matisse, Delacroix e Picasso, de filmes de Hollywood e através de fetiches
pornográficos via internet. Todas estas imagens são moralmente aceites,
moralmente banais, e socialmente reais.
Em Marrocos, por exemplo, a roupa é feita à medida para as mulheres, nos armazéns
pronto-a-vestir ocidentais, as mulheres são classificadas a números
institucionais que funcionam como padrão de beleza. O poder ocidental reside em ditar
o que uma mulher deve vestir e o aspecto que deve ter fazendo acreditar que a
mulher tem o poder de decidir como, quando e o que vestir mas, na verdade,
estão a ser controladas pelo assunto mais de ordem masculina do que feminina.
Para além dos compromissos profissionais, a mulher ocidental acrescenta a dura
batalha da “beleza”, esta que tem vindo a ser cada vez mais rigorosa, “quanto
mais perto do poder as mulheres chegam, maiores se tornam as exigências do
sacrifício e preocupação com o físico”(Wolf, 1991).
A mulher ocidental deverá ter consciência que envelhece e, ao
contrário dos homens, a mulher não é como o Vinho do Porto. Com a idade,
torna-se desinteressante sexualmente aos olhos da sociedade. Para isso a
publicidade tem sempre a solução: por dia são dedicados metade dos anúncios
publicitários à mulher ou como a mulher deve ser ou fazer para não se tornar
desinteressante. Estudos realizados no Reino Unido (Janeiro 2004) mostram que
87% das raparigas entrevistadas se sentem infelizes com o seu corpo (dados
Dove).
Será que somos tão diferentes das mulheres orientais? Será que somos
livres e independentes? Estamos preparadas para assumir que temos mais
semelhanças do que pensamos com o Harém Oriental?
Como mulheres ocidentais nascemos com a ideologia da beleza criada, na
minha opinião, pelo sistema capitalista onde o tamanho S ou M da Zara é uma
restrição pior do que o véu muçulmano. Ao contrário da mulher muçulmana que
pode retirar o véu mudando de espaço, a mulher ocidental vive com um véu cravado no corpo, este que carrega o fardo da beleza.
Porém, problema surge quando não existe consciência que o fardo da
beleza existe. A mulher muçulmana nasce destinada a viver com o véu, porém,
está certa do seu papel naquela sociedade, tem consciência da prisão que a
sociedade lhe reserva. Contudo a mulher do Ocidente vive num paraíso artificial
de liberdade, de total emancipação, está repleta de falsa independência.
Nós, ocidentais, vivemos com uma venda que nos cega, essa que nos dá a
sensação de liberdade. Nascemos e crescemos com um véu cravado, um véu invisível,
psicológico bem mais complicado de eliminar pois não temos a noção que o transportamos.
Vivemos também num harém, ao contrário
do harém Oriental que é físico, o nosso harém é psicológico e emocional e, mais
uma vez, não reflectimos sobre a sua existência. Para acabar com essa venda
teremos de perceber que não existem muitas diferenças entre o Oriente e o
Ocidente. Que não existe o povo superior e desenvolvimento versus o povo
inferior e atrasado. Somos todos seres à procura da real liberdade e, na minha
opinião, a mulher ocidental está atrasada em relação à oriental pois, como
disse, não tem consciência da verdadeira realidade.