segunda-feira, 10 de junho de 2013

Distinção segundo o género


Lee Friedlander (1934) 
fotografia


‘Ninguém nasce mulher, torna-se mulher.’ Simone de Beauvoir

Quando uma criança nasce, o seu género não é definido apenas pelo seu corpo, pelo sexo que o constitui. Há toda uma relação desta criança com o mundo que a envolve, com a sua educação. Educação essa que até os dias de hoje baseia-se muito no género feminino e masculino. Ao longo do nosso crescimento indicam-nos o que se deve fazer segundo cada género, o que é suposto fazer e o que nao é suposto fazer segundo a cultura em que estamos inseridos. 
Este costume esta inserido na nossa sociedade de forma implícita, esta distinção é tão óbvia que podemos deparar-mo-nos com, sem que nos faça pensar. Em muitos pormenores podemos assistir a esta distinção. Quando vamos a uma casa de banho pública existe sempre o símbolo para indicar a casa de banho das mulheres e a dos homens, e este é um dos exemplos mais óbvios, em muitas outras coisas existe a distinção segundo o sexo, se virmos um homem maquilhado, de sobrancelhas arranjadas, iremos estranhar, porque não é hábito. 
A fotografia de Lee Friedlander apenas confirma esta divisão de pensamento, pois, em primeira análise o que distinguimos é o corpo que está presente e se este é do género feminino ou masculino, e só depois é que analisámos o ambiente envolvente e a técnica fotografica. 
Este hábito da nossa cultura advém de há muito, define-nos em termos sociais. Enquanto seres da mesma espécie, esta distinção entre homem e mulher, ao longo dos tempos vai tentando ser menos evidente.

Richard Phillips e o prazer visual




RICHARD PHILLIPS
Lindsay III, 2012
Oil on linen
243.8 x 367 cm


Richard Phillips (1962)

As suas pinturas de hiper-realismo, de grande escala lembram-nos o estilo pictórico das revistas dos anos 1950, 1960, 1970, reflectindo as tradições culturais da imagem. Elaborado a partir de fotografias, o seu trabalho lida com a comercialização do homem, dos seus desejos, ideias, acções, identidade, sexualidade, política e desejos. Richard Phillips traduz as imagens em desenhos e pinturas através de um processo tradicional, e ao faze-lo tira partido da qualidade icônica das fotografias que os meios de comunicação partilham. Nos seus retratos close-up, os temas são essencialmente mulheres, tanto de revistas pornográficas como musicos, actores, politicos. O seu trabalho tem por base retratar pessoas famosas, importantes para a sociedade americana, e mais do que qualquer outro pintor contemporâneo do seu género, as imagens de Phillips alcançam um nível de reconhecimento fora do mundo da arte, estando directamente ligadas ao universo da moda, aos mídia, e ao cinema.
Nesta obra de Richard Phillips é evidente a conotação sexual de relação e poder que existe na imagem. Assim como acontece na publicidade, há um misto de emoções a nível sexual. A mulher é observada pelo homem, e simultaneamente exibe-se de forma provocadora, tendo uma grande carga erótica, é caracterizada enquanto objecto sexual passivo, de desejo. Transpõe prazer visual em que satisfaz o desejo do olhar masculino, atingindo assim o público alvo. Desta forma, as mulheres transportam em si o poder de serem olhadas e Richard Phillips torna isso evidente com as suas obras de caracter mais pop, comercial.

Referências 
weblog: http://www.gagosian.com/artists/richard-phillips


O Harém Ocidental

No Oriente, as raparigas nascem e são criadas em haréns. No Ocidente as raparigas nascem e crescem em casas da sua família. No Oriente as mulheres saem de casa quando um homem interessado negoceia o casamento com família da rapariga. No Ocidente a rapariga é livre de sair de casa dos pais, para estudar, trabalhar ou namorar sem casar.



No Ocidente, os homens sonham com o seu harém onde teriam ao seu dispor inúmeras mulheres virgens, no qual o festim orgástico seria pão nosso de cada dia. E, mais importante, sonham com a passividade sexual da mulher, sexo sem qualquer resistência. As mulheres estão ao dispor de todas as suas necessidades e fantasias. As imagens deste harém idealizado por ocidentais chegam de Mestres da Pintura como Ingres, Matisse, Delacroix e Picasso,  de filmes de Hollywood e através de fetiches pornográficos via internet. Todas estas imagens são moralmente aceites, moralmente banais, e socialmente reais.

Em Marrocos, por exemplo,  a roupa é feita à medida para as mulheres, nos armazéns pronto-a-vestir ocidentais, as mulheres são classificadas a números institucionais que funcionam como padrão de beleza. O poder ocidental reside em ditar o que uma mulher deve vestir e o aspecto que deve ter fazendo acreditar que a mulher tem o poder de decidir como, quando e o que vestir mas, na verdade, estão a ser controladas pelo assunto mais de ordem masculina do que feminina. Para além dos compromissos profissionais, a mulher ocidental acrescenta a dura batalha da “beleza”, esta que tem vindo a ser cada vez mais rigorosa, “quanto mais perto do poder as mulheres chegam, maiores se tornam as exigências do sacrifício e preocupação com o físico”(Wolf, 1991).

A mulher ocidental deverá ter consciência que envelhece e, ao contrário dos homens, a mulher não é como o Vinho do Porto. Com a idade, torna-se desinteressante sexualmente aos olhos da sociedade. Para isso a publicidade tem sempre a solução: por dia são dedicados metade dos anúncios publicitários à mulher ou como a mulher deve ser ou fazer para não se tornar desinteressante. Estudos realizados no Reino Unido (Janeiro 2004) mostram que 87% das raparigas entrevistadas se sentem infelizes com o seu corpo (dados Dove).

Será que somos tão diferentes das mulheres orientais? Será que somos livres e independentes? Estamos preparadas para assumir que temos mais semelhanças do que pensamos com o Harém Oriental?

Como mulheres ocidentais nascemos com a ideologia da beleza criada, na minha opinião, pelo sistema capitalista onde o tamanho S ou M da Zara é uma restrição pior do que o véu muçulmano. Ao contrário da mulher muçulmana que pode retirar o véu mudando de espaço, a mulher ocidental vive com um véu cravado no corpo, este que carrega o fardo da beleza.
Porém, problema surge quando não existe consciência que o fardo da beleza existe. A mulher muçulmana nasce destinada a viver com o véu, porém, está certa do seu papel naquela sociedade, tem consciência da prisão que a sociedade lhe reserva. Contudo a mulher do Ocidente vive num paraíso artificial de liberdade, de total emancipação, está repleta de falsa independência.

Nós, ocidentais, vivemos com uma venda que nos cega, essa que nos dá a sensação de liberdade. Nascemos e crescemos com um véu cravado, um véu invisível, psicológico bem mais complicado de eliminar pois não temos a noção que o transportamos. Vivemos também num harém,  ao contrário do harém Oriental que é físico, o nosso harém é psicológico e emocional e, mais uma vez, não reflectimos sobre a sua existência. Para acabar com essa venda teremos de perceber que não existem muitas diferenças entre o Oriente e o Ocidente. Que não existe o povo superior e desenvolvimento versus o povo inferior e atrasado. Somos todos seres à procura da real liberdade e, na minha opinião, a mulher ocidental está atrasada em relação à oriental pois, como disse, não tem consciência da verdadeira realidade.

domingo, 26 de maio de 2013

jogos


No último dia 17 de Maio, foi aprovado, em Assembleia da República, o projecto de lei que permite a co-adopção por pessoas do mesmo sexo.
  • co-adopção. s.f. acto jurídico pelo qual se estabelece relação legal de filiação com o filho de um conjugue ou afim.


  • Artigo 3.º do Decreto de Lei n.º 9/2010 de 21 de Maio - Adopção: 1 — As alterações introduzidas pela presente lei não implicam a admissibilidade legal da adopção, em qualquer das suas modalidades, por pessoas casadas com cônjuge do mesmo sexo; 2 — Nenhuma disposição legal em matéria de adopção pode ser interpretada em sentido contrário ao disposto no número anterior.
A co-adopção pode ser usada como forma de contrariar a lei, que não prevê a adopção entre casais do mesmo sexo, abrindo espaço para que esta possa ser feita, por exemplo, com uma adopção por faseada. 
Anda-se para a frente ou para trás? A possibilidade de poder ser feita a adopção entre pessoas do mesmo sexo é animadora, mas até que ponto o facto de esta estar sujeita a jogos submissos, morosos e burocráticos é glorificante ou, denota algum tipo de mudança? Vitória ou humilhação? "Pode-se fazer, ir e ser, às escondidas; toda a gente sabe mas ninguém conhece."

Transformação


Este vídeo inclui uma cena do filme Laurence Anyways, de Xavier Dolan. Xavier situa-nos na década de 80, no Canadá, e conta-nos a história de um casal de namorados heterossexual, Laurence e Fred, que se vêm obrigados a reinterpretar a sua relação a partir do momento em que Laurence confessa a Fred que sempre desejou ser uma mulher e que, portanto, quer envelhecer como uma, iniciando todo um processo de transformação. Contra todas as adversidades, contra família e amigos e contra eles mesmos, enfrentam uma situação que constitui permanente ofensa à sociedade e embarcam num processo de transição, que coloca a sua relação num estádio de grande fragilidade.
Esta cena em particular, serve como exemplo de alguns dos conflitos aos quais são expostos, ainda que numa fase inicial da transformação de Laurence. Vítimas das fobias de uma sociedade que olha, que viola, que magoa, que risca a azul, que proíbe, estas duas pessoas lutam por um amor que transcende o género.

Xavier conduz o espectador a diferentes pontos de vista, constituindo este filme uma espécie de viagem por conceitos que resultam em várias questões, nomeadamente: a prisão que o sexo constitui, dando forma ao género; o que é que, em três décadas, mudou na forma como a sociedade recebe a transsexualidade; o amor independentemente do padrão social; etc.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Ocupar Lisboa

Ocupar | Ocupar em Portugal
Artigo 65.º do Decreto de Aprovação da Constituição nº CRP 1976 de 10 de Abril de 1976 - (Habitação): 1. Todos têm direito, para si e para a sua família, a uma habitação de dimensão adequada, em condições de higiene e conforto e que preserve a intimidade pessoal e a privacidade familiar.
Os alicerces do movimento okupa nascem e ganham vida no berço capitalista, como uma forma de protesto e luta à especulação imobiliária - através da subversão entre o privado e o comunitário, ao abandono do património, que ganha especial visibilidade nas metrópoles, devido à desertificação das mesmas, assim como remete a um questionar daquilo que é o conceito de propriedade.
Essencialmente, a ocupação revela-se como um acto de afirmação e crítica face ao sistema, tentando-se recuperar uma soberania individual e restabelecer um local de actuação de comunidade: o indivíduo torna-se cada vez mais activo, não se demitindo do seu papel.

Ocupar um espaço abandonado, em relação ao qual o proprietário legal não revela interesse ou não tem condições para manter vivo, e que portanto é considerado devoluto, é uma acção passível de ser interpretada através de diversos pontos de vista. A legislação altera-se de país para país, havendo muitas disparidades entre estas.

Em Portugal, este movimento não se encontra tão socialmente disseminado como noutros países, como Espanha, por exemplo, em que a  okupação assegura o seu lugar cativo num retrato social logo após a Guerra Civil Espanhola. A maioria da população não conhece o movimento e a legislação não o admite: a ocupação não existe em termos jurídicos.
Artigo nº 1316 (Modos de Aquisição) do Código Civil Português: O direito de propriedade adquire-se por contrato, sucessão por morte, usucapião, ocupação, acessão e demais modos previstos na lei. 
Alínea d) do Artigo nº 1317 (Momento da Aquisição) do Código Civil PortuguêsO momento da aquisição do direito de propriedade é, nos casos de ocupação e acessão, o da verificação dos factos respectivos.
Artigo nº 1318 do Código Civil PortuguêsPodem ser adquiridos por ocupação os animais e outras coisas móveis que nunca tiveram dono, ou foram abandonados, perdidos ou escondidos pelos seus proprietários, salvas as restrições dos artigos seguintes.
A realidade é que ocupar em Portugal é uma grande história de amor, qual Romeu e Julieta; é uma luta diária por um espaço que legalmente não pertence a quem ocupa, estando esta entidade sujeita a ser despejada a qualquer momento, independentemente do tempo, dedicação e empenho que tenha investido no mesmo, e do estado de devolução em que o bem imóvel se possa encontrar. A habitação torna-se um fetiche: basta um alguém atribuir importância a uma casa devoluta, que esta passa a ter um repentino valor para o seu proprietário (alienando-nos do significado de propriedade), que a tinha abandonado até então.

Assim como no amor, a desilusão pode caminhar de mãos dadas com a ocupação. Tornar um espaço moribundo um Lar é também uma forma de partilha, porque também colectiva; usualmente, os alicerces desse Lar são comunitários: para a comunidade, como comunidade, em comunidade.

É de se compreender que a ocupação não prende o espaço; é versátil e transversal; não tem morada, não cessa. É, independentemente do sítio.

A ocupação não é uma utopia, mas a utopia pode tornar a ocupação mais recorrente: quando caminhas para a utopia podes passar pela ocupação. Como todas as histórias de amor, é uma história de amor contigo mesmo e com o teu ego. É importante, como em tudo, que os egos colectivos se reunam com alguma frequência e se amem, sem nunca haver vontade dissimulada que algum não participe, sem que as portas se fechem às escondidas.


Todas ao Ministério

No passado dia 25 de Abril, ocupou-se em Lisboa o antigo Ministério da Educação da Ditadura Nacional, nº 1 do Campo Mártires da Pátria, propriedade privada. A acção relâmpago, de carácter provocador e simbólico, apresentou-se ao público com uma agenda cultural compreendida entre o dia da ocupação e o 1º de Maio e incluía vários debates, jantares, conversas (inclusive com Alselm Jappe, que se encontrava em Portugal durante essa semana) e outros convívios e encontrava-se aberta a toda a população. 

Dois dias depois, já o proprietário conhecia o sucedido e fez o seu representante acompanhar-se da PSP ao local, de forma a despejar quem lá se encontrasse. No dia anterior por mais de três vezes vários agentes da autoridade, de diferentes postos, se tinham dirigido ao Ministério, revelando não conhecer a legislação, o edifício ou o proprietário do mesmo, que diziam pertencer ao Estado Português.

Para além do simbolismo patente a este projecto, ocupar este palácio em particular revelou-se muito oportuno, pois pôs a descoberto um caso de usurpação do património nacional, macabro:


 - datado do século XVIII, o Palácio Silva Amado foi adquirido pelo estado em 1928, sendo que constitui um dos mais ricos exemplos da arquitectura setecentista e está classificado como Imóvel de Interesse Público; o seu interior encontra-se ornamentado com materiais de grande qualidade e aparato como mármores polidos, tectos de caixotões de madeira pintada, talha, pintura, espelhos, entre outros;



 - após a ocupação do edifício, que estaria abandonado há mais de uma década, encontraram-se todas as paredes despidas dos painéis de azulejos, ainda com as marcas da presença dos mesmos, que teriam sido numerados;

- há um projecto para este palácio ser reestruturado, pela promotora imobiliária espanhola Reyal Urbis, e transformado num hotel de luxo, num investimento de mais de 20 milhões de euros, como afirma a proprietária no seu sítio.

Esta ocupação simbólica desenferrujou muitas engrenagens. Muito bem recebida pela vizinhança, por turistas e curiosos, teve as portas abertas sempre desde o início: não precisas de chave para entrar em casa.
Urge repensar e restabelecer determinados valores. O libertinismo e o estado de selvajaria deformada que paira no ar põe todos a jeito para que isso aconteça nesse sentido.


domingo, 20 de janeiro de 2013

A LÓGICA DA AVALIAÇÃO CRITICA AS QUESTÔES Para alguns críticos de arte, a tarefa da critica consiste em descrever e interpretar as Obras de arte, de modo a estimular o nosso interesse em relação a elas, aumentar a nossa Familiaridade e ajudar assim a nossa compreensão. Do ponto de vista de uma teoria Simbólica a arte, a maior parte dos problemas implicados nesta actividade podem ser Reconduzidos aos problemas respeitantes à representação, exemplificação, metáfora, Expressão, alusão e estilo. Outros críticos consideram que além desta tarefa devem Formular apreciações avaliativas e comparativas, onde avaliar é estabelecer a escala ou Hierarquia das obras de arte entre si, empregando critérios explícitos para decidir se Uma obra é superior a outra. Os critérios de artes plásticas quando Seleccionam as obras não se limitam a dizer se são boas ou más. Apresentam razões Para os seus juízos de valor. Apresentam uma razão para avaliar em crítica de arte Consiste em referir algumas características da obra como suporte para avaliação, Isto é, como evidência de que a avaliação é correcta, de tal forma que ao aceitar-se a razão tem de aceitar a avaliação. A forma elementar de um juízo de valor é “ A obra de Arte X é boa porque….” E a seguir ao porque é a razão para avaliação. Algumas vezes As razões são boas e oferecem um suporte para um juízo de valor, outras vezes não. Põe- Se então dois problemas: 1º O problema de dizer se uma obra de arte é boa ou má e porque razão; 2º O problema de dizer porque é que as razões são boas ou relevantes.

sábado, 19 de janeiro de 2013



Comunista até enriqueceres. Feminista até te casares. Ateísta até o teu avião começar a cair.


Na cultura, quem dita o que é bom ou o que é mau são, desde algum tempo, as massas. O que agrada à maioria, o dito comercial, é aquilo que é considerado bom e se projeta melhor no mercado, seja no cinema, na música, na literatura ou na arte.
 Neste caso, não quero dizer necessariamente, que o facto de uma pessoa se considerar comunista, feminista ou ateísta dependa de modas. Não pretendo fazer generalizações, mas assim que me cruzei com esta imagem na internet, surgiram em mim vários pensamentos e, comecei a me aperceber que hoje em dia, a maior parte das pessoas da minha idade (ou não) parece ser muito inclinada para a defesa destas três posições.
Dá-me a sensação que, na sociedade actual, para além de modas de vestuário, gosto musical e afins, existe modas no que toca a formas de pensar. Um fenómeno que se vai observando cada vez mais; defender algo porque alguém que nos é próximo ou alguém que admiramos também defende e, a maior parte das vezes, sem ter a mínima noção do que é que implica defender essa ideia, quais são os seus princípios.
Esta frase, repleta de ironia, também me leva a concluir que as pessoas não se informam o suficiente sobre os assuntos. Ou seja, como já referi, escolhem seguir determinados caminhos e defender determinadas ideias por causa de modas e, como é de esperar, não tomam o papel que é esperado de alguém que decide fazer parte de um grupo que sustenta uma ideologia. Assim, logo que se virem forçados a acreditar noutra coisa contrária ao que inicialmente diziam defender, negarão com facilidade, e hipocrisia, o facto de já terem sido comunistas, ateístas, feministas ou outra coisa qualquer.
Enfim, as modas atingem todos os campos, até o do pensamento e, por muito que uma pessoa acredite em algo e participe das suas causas, restará sempre a dúvida se é realmente verdadeiro.

"Isto é tão FBAUL!"


A olhar para um cartaz que anuncia um evento que no calendário se marca próximo ou, muitas vezes, ao parar de frente para trabalhos de alunos do 3º ano do Curso de Design de Comunicação, solto, ou soltamos, um comentário que diz “Isto é tão FBAUL!”.
Identificamos de forma clara uma linguagem gráfica nos objetos produzidos dentro da nossa faculdade. Talvez isto seja uma coisa nossa, alunos de Design de Comunicação, que somos treinados, ensinados ou influenciados a, de forma inconsciente, olhar para um cartaz e ver a forma antes do conteúdo, a olhar para uma publicação e ver a grelha invisível antes de ler o texto ou a tentar perceber qual o tipo de letra utilizado antes de descodificar o que com aqueles símbolos se escreve. Reconhecemos o valor, a força e a expressão gráfica do que nesta faculdade se faz e, como é natural, tomamos estes objetos como modelo.  Vimos aqui todos os dias para aprender a fazer estas coisas e deixamo-nos facilmente fascinar pela ideia de olharmos assim para o nosso próprio trabalho. Porque estas coisas são boas, são realmente boas e, no fim deste percurso, queremos ser bons o suficiente para fazer objetos assim.
Ainda que haja uma distinção entre os alunos que assumem esta linguagem e os que tentam evitá-la tanto como podem por não quererem deixar que a sua expressão própria seja engolida pela expressão desta instituição, todos nos deixamos alienar. Neste sentido, há muitas vezes uma verdadeira anulação da personalidade, ou da expressão individual de alguns de nós, que acabamos escravizados por qualquer coisa de que gostamos, a que reconhecemos valor e que temos por modelo. A verdade é que queremos aquilo para nós e por isso deixamo-nos levar, trocamos a possibilidade de apresentar o inesperado pela certeza de que o que apresentamos é bom, é forte, é aceite por todos, é compreendido e desejado.
Deixamo-nos alienar pela linguagem que é de todos e corremos o risco de ver trocado o nosso nome próprio por um nome colectivo. Perdemos a oportunidade de ter alguém a parar em frente ao nosso trabalho e dizer “Isto é tão Fernando!”, ou Carmo ou Daniela para ouvirmos um “Isto é tão FBAUL!”. Neste ponto, deixámo-nos afogar numa unicidade que não é nossa e que, na verdade, nunca será. Porque é de um grupo de pessoas que continua a crescer. Neste ponto, nós somos desse grupo de pessoas, eu sou de todos. Deixei de ser eu, para passar a ser todos.




sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

A Alienação intemporal




No início do filme "Os Tempos Modernos" de Sir Charles Spencer, protagonista da personagem icónica Charlie Chaplin, é feita uma critica onde se pode inserir o conceito de alienação de Karl Marx.
Neste caso trata-se se uma sequência de imagens onde é possível ver todos os trabalhadores a chegarem ao trabalho sem olharem ao que está à sua volta.
Para além do início do trabalho podemos constatar que sendo um trabalho mecânico, cada trabalhador repete o mesmo movimento durante o seu dia de trabalho,  acabando por fazer sempre o mesmo.
Este filme é um retrato da epoca, mas que ainda é bastante actual.
Assim o conceito de alienação encaixa muito bem neste filme principalmente nestes primeiros dez minutos.
“Estar alienado é estar separado da sua própria essência ou natureza; é ser forçado a levar uma vida na qual aquela natureza não tem oportunidade de ser cumprida ou posta em acto. Desta forma, a experiência da alienação envolve um sentido de falta de valor próprio e uma ausência de sentido da sua própria vida.” Wood, op. cit., p. 180.
Este excerto transmite de forma resumida o que Karl Marx veio defender e escolhi este filme porque Charles Spencer  representa por imagens a teoria de Marx. Apesar de ter presente uma personagem cómica, não deixa de caracterizar de forma crua o conceito de alienação.
Ambos fazem uma comparação ou uma aproximação da perda de valor da vida de cada indivíduo através do trabalho e da produção em massa. Segundo Marx, quanto mais o operário produz, menos ele custa para a economia e consequentemente mais ele se desvaloriza, chegando ao ponto de se tornar uma mercadoria e uma peça do capitalismo.
Quanto mais o operário produzir, mais ele valoriza o mundo das coisas e desvaloriza o mundo dos homens, torna-se cada vez mais pobre quanto mais ele produzir.
O próprio processo do acto do trabalho afasta-nos de nós, pois primeiro recebemos o trabalho e só depois de o produzir é que recebemos o meio de subsistência (até é estranho ser de outra forma), sendo que primeiro somos trabalhadores/operários e só depois é que somos uma pessoa, tornando-nos escravos do trabalho.
Após estes acontecimentos deixamos de ter a capacidade de nos afirmar e deixamos de ser indivíduos, passando a ser massas e caminhando para a infelicidade.
O homem para se sentir vivo tem de desempenhar as suas "funções" animais, assim quando o homem passa apenas a desempenhar as funções de sobrevivência "moderna"(possuir dinheiro trabalhando), perdendo-se, apagando-se, e alienando-se.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Idiossincrasias do acordo ortográfico

Há demasiado tempo que são esgrimidos argumentos sobre o mais recente acordo ortográfico de língua portuguesa, também conhecido como AO90. Desde o início, identificam-se mais detratores que apoiantes a expressar considerações sobre regras, aprovação e implementação do AO90. Entre outros, colunistas, jornalistas, linguistas e políticos reuniram e publicaram, nos mais diferentes títulos, carateres alinhados sob as regras do anterior acordo, sem cedências à nova proposta gramatical. Apaixonados, dramáticos, emocionais, entusiásticos, exaltados, excessivos, facciosos, ponderados, redutores, romanescos, mais e menos honestos, o ideário passou por ponderações de maior e menor interesse, mas, de todas - apologistas e detratores -, nenhuma invocou as reflexões de Ferdinand de Saussure.
O pragmatismo de algumas análises contidas na obra, póstuma, «Curso de Linguística Geral», sobre a «Natureza do signo linguístico» e a forma como a análise a que denomina «Imutabilidade do Signo» se adapta às vicissitudes de implementação do AO90 são desarmantes:


«Se, frente à ideia que representa, o significante manifesta-se como objeto de livre escolha, em comparação, relativamente à comunidade linguística que o emprega, ele não é livre mas imposto. A massa social não é consultada, e o significante escolhido pela língua não poderia ser substituído por qualquer outro. [...]
Não só um indivíduo seria incapaz, se o quisesse, de modificar no que quer que fosse a escolha que foi feita, mas a própria comunidade não pode exercer a sua soberania sobre uma só palavra: ela está ligada à língua tal como é. [...]
Em qualquer época, e por muito que recuemos, a língua aparece como uma herança duma geração precedente. O ato pelo qual, num dado momento, os nomes foram distribuídos pelas coisas, e que estabelecem o contrato entre os conceitos e as imagens acústicas - esse ato, podemos imaginá-lo, mas nunca foi verificado. [...]
De facto, nenhuma sociedade conhece nem nunca conheceu a língua senão como produto herdado das gerações anteriores que se deve receber e manter intacto. [...]
A língua é, de todas as instituições sociais, a que oferece menor margem às iniciativas. Ela incorpora a vida da comunidade, e esta, naturalmente inerte, aparece antes de mais como um fator de conservação.»
(Saussure, Ferdinand, (1916/1999), O Curso de Linguística Geral. Lisboa: Dom Quixote, p. 129, 130, 133)


Tais argumentos delimitam a controvérsia em novo enquadramento, tentando possível esclarecimento dos motivos disruptivos enunciados.
A dado momento da obra, existe ponto em que a análise promove a procura da depuração da argumentação à sua essência:

«Ainda que a comunidade fosse mais consciente, não a saberia pôr em discussão. Para que uma coisa seja posta em questão é preciso que assente numa norma racional.»
(Saussure, Ferdinand, (1916/1999), O Curso de Linguística Geral. Lisboa: Dom Quixote, p. 132)


Em todo o caso, é privilegiado ponto em que a análise é decisiva:

«O tempo, que assegura a continuidade da língua, tem um outro efeito, à primeira vista contraditório em relação ao primeiro: o de alterar mais ou menos rapidamente os signos linguísticos, e, num certo sentido, podemos falar ao mesmo tempo de imutabilidade e da mutabilidade do signo.»
(Saussure, Ferdinand, (1916/1999), O Curso de Linguística Geral. Lisboa: Dom Quixote, p. 134)


Seja mais ou menos abrupta, segundo Saussure, a língua - por arraste os seus signos - sofre sempre mutabilidade, ainda que a imutabilidade seja norma. Talvez esse motivo tenha estado na origem de o presente texto tentar seguir as regras do novo acordo ortográfico.

"6 msgs. novas"



As tecnologias de informação e comunicação marcam a cada dia uma maior presença no mundo. Por isso, estamos tão dependentes delas, tanto a nível privado como laboral, de tal modo que é impensável sair de casa sem o telemóvel, por exemplo. Hoje em dia o telemóvel é visto não só como um objecto de comunicação, mas também como um objecto de imagem ou de representação de pertença a um determinado status social. 
As marcas mais sofisticadas e modelos mais avançados ou modelos topo da gama estão na posse dos grupos sociais de maiores posses económicas, porque esses telemóveis são os mais caros. É necessário referir também que essas mesmas classes sociais mais elevadas fazem questão de possuir esses modelos mais caros para mostrar perante a sociedade o seu poder económico e grupo social a que pertencem.








A maior vantagem do telemóvel, quer a nível pessoal quer a nível profissional, é a de tornar as pessoas sempre contactáveis. Quanto às desvantagens deste aparelho, a maior é, sem sombra de dúvidas, o afastamento do contacto físico entre o ser humano, destruindo relações interpessoais e o diálogo entre as famílias. Cada vez se conversa menos “olhos nos olhos”, se brinca menos ao ar livre e em família. O homem, dependente deste objecto entra num estado de alienação. Todo o tempo que antes de passava com os amigos/família, foi substituído por uma cadeia de mensagens de texto que rondam assuntos superficiais. As pessoas já nem sentem a necessidade de sair à rua, porque para pôr a conversa em dia bastam alguns "cliques" no teclado para o diálogo se iniciar. 


Considero que esta realidade, preocupante, que define a sociedade em que vivemos, poderá descarrilar se não for nossa intenção o contrário. O homem deveria tomar consciência desta situação, e se o é, seria sábio da sua parte desprender-se deste vício telefónico que o infecta.