O pós guerra teve uma grande influência na produção industrial e na apropriação dos produtos pelo consumidor.
Os materiais desenvolvidos para a guerra, foram aproveitados mais tarde na industria gerando novos produtos. Um produto em especial como o electrodoméstico, foi responsável pela solução de duas questões: a continuação produtiva das fábricas e a recolocação dos soldados no mercado de trabalho. No fim da guerra, as mulheres estavam a ocupar postos de trabalho que antes eram dos homens, e o governo desejava que elas voltassem para os seus afazeres domésticos. Surge então uma grande variedade de electrodomésticos e as indústrias que os produziam criaram uma identificação, através de campanhas publicitárias, com o público consumidor feminino. O design tenta então reafirmar o papel da mulher na família, como dona de casa, fornecendo melhorias e facilidades no seu trabalho doméstico. Um exemplo que representa bem esta realidade é o filme de 1958, “Mon Oncle” de Jacques Tati. Este invoca muito bem o fervor exacerbado pelo consumismo e pelo modernismo, que permanece tremendamente actual nos dias de hoje. Representa o tal período pós-guerra em França, retratando a evolução do design em contraste com os ambientes tradicionais vividos num bairro normal francês. Apesar da crítica evidente à mania da modernidade, o filme diverte-se mais em explorar a mecânica da casa do que em traçar um comentário mais profundo sobre o assunto. Fica claro no filme que todas as "geringonças têm uma função muito maior do que aquelas inerentes a elas: a ostentação.
A outra solução do pós-guerra estava na readaptação da produção nas indústrias, ou seja, a empresa que produzia tanques de guerra iria agora produzir carros, as que produziam aviões de guerra, aviões comerciais. Assim surge mais um vasto campo para a actuação do designer. Neste âmbito surge o famoso citroen “Déesse” (A deusa), que só o nome fala por si mesmo. A Citroen teve 12.000 pedidos para o DS até o final do primeiro dia, e logo se tornou conhecido como o meio de transporte preferido entre os cidadãos mais ricos e poderosos da França. Ora estes dois campos da industria que entraram em contacto, quer com o mundo feminino, quer com o mundo masculinho tornaram-se cada vez mais confortáveis e adaptáveis à estetica dos sentidos humanos, “toca-se com a mão nas chapas, nas junturas, apalpam-se os estofos e as almofadas”. Há com que uma certa moldagem do objecto à pessoa, com que se um completasse o outro. No novo citroen “o volante vazio, ei-lo mais doméstico, mais de acordo com essa sublimação da utensilagem (...) o quadro de condução assemelha-se mais à banca de uma cozinha moderna”. Uma cozinha moderna, tão confortável, tão clean, tão high-tech, tão bem programada como a do filme de Jacques Tati. As pessoas deslumbram-se com tais “objectos perfeitamente mágicos” e que “caiem manifestamente do céu”. São iludidas por estes “ambientes futuristas” e pela beleza inerente a eles. No entanto, tudo isto não passa de uma manipulação da sociedade de consumo, envolvida nos valores próprios de um novo mercado. O consumo passou a reger a dinâmica do sistema e a sociedade foi impulsionada a consumir mais automóveis, electrodomésticos, roupas... a demanda material aumentou e a lógica da quantidade dominou esta época.
Assim conclui com a seguinte pergunta: Será que neste estereótipo de vivência moderna são os objectos a apropriarem se de nós ou será que somos nós que nos apropriamos deles?
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