Diante
da temática do consumismo e do "feitiço da mercadoria", do poder que
esta exerce em nós e nos nossos comportamentos, passam-me sempre pela cabeça
imagens e frases do Fight Club, filme de David Fincher.
Este
filme, do ano de 1999, baseado no livro com o mesmo título de Chuck Palahniuk,
aborda, para além de outras temáticas, o consumismo como um sinal de vazio
emocional que, por isso, é um acto que tenta servir como uma espécie de
"mecanismo de defesa" que parece tornar as coisas (e as pessoas)
melhores e mais "cheias". É um perfeito exemplo da contemporaneidade
consumista e hedonista. Trata-se, claramente, de uma forte crítica à sociedade americana
e os seus valores (ou falta deles), se bem que, quando falamos deste problema
não podemos apontar o dedo apenas aos americanos.
Com
o advento dos meios de comunicação, a sua presença constante no nosso dia-a-dia
e com a invenção das mais brutais manobras de marketing, as pessoas vão
vendendo as suas almas aos poucos e poucos. Chegou-se a um ponto em que
pessoas, ao pé das coisas, passam a ser o objecto, pois são manipuláveis e
quase já nem têm controlo sobre elas mesmas. Já não se compra a marca x, a
marca x é que alicia e compra os seus vorazes consumidores.
“The
things you own end up owning you.” (Fight Club)
Durante
o filme conhecemos a história de um homem, que tinha tudo (ou pelo menos ele
assim o achava), e que, num acontecimento trágico, perde esse "tudo".
As coisas que este possuía eram meramente materiais. Comprava-as porque para
além de se ter tornado num autêntico "escravo" das marcas, tentava
encobrir a falta de algo maior, algo espiritual, definindo a sua vida através
das suas posses.
“Estou,
estou na moda.
É
doce estar na moda, ainda que a moda
seja
negar minha identidade,
trocá-la
por mil, açambarcando
todas
as marcas registradas,
todos
os logotipos do mercado.
..."
Carlos
Drummond de Andrade (1984) O corpo.
É,
por isso, também clara, a associação com o que escreveu Carlos Drummond de
Andrade. Evidencia a posição do sujeito, como um escravo, perante as modas, os
catálogos e as marcas. No momento em que o protagonista perde tudo o que tinha,
o filme desenrola-se numa filosofia praticamente niilista. O indivíduo começa a
viver sobre a ideia de que só depois de perdermos tudo é que somos totalmente
livres para fazer o que quer que seja. Estar sem nada serve como uma espécie de
libertação. Sem carro, casa, dinheiro ou acessórios, somos nós sozinhos. Já
nada, para além de nós, nos define como pessoas.
E,
de facto, vivemos numa sociedade, numa crise de valores, que às vezes parece
que precisa de perder tudo para depois se reinventar.
"You're not your job. You're not how much money you have in the bank. You're not the car you drive. You're not the contents of your wallet. You're not your fucking khakis. You're the all-singing, all-dancing crap of the world." (Fight Club)
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