terça-feira, 27 de novembro de 2012

Uma realidade que no dia-a-dia nem sequer equacionamos


            Os programas de intercâmbio são uma realidade cada vez mais frequente e ambicionada na vida de um estudante. As razões são muitas e, de certo, variam de pessoa para pessoa. Mais que o intercâmbio só de pessoas ou de conhecimentos, este tipo de projectos revelam-se um intercâmbio de culturas.
            A minha experiência ainda nunca me enviou a outro país, mas já me coube a mim receber muitos estrangeiros. E, assim que nos vemos frente a frente, o primeiro obstáculo a ultrapassar é a língua. Isto cai sobre nós como o aperceber de uma realidade que  no dia-a-dia nem sequer equacionamos: afinal a fala não é natural como nos parecia quando, lá em casa, discutíamos este ou aquele assunto com alguém que se expressa oralmente da mesma forma que nós. A linguagem é do mais cultural que há e é a primeira coisa que nos diz esta aventura que põe a nu as estruturas, culturais e linguísticas, sobre as quais caminhamos todos os dias. Escolhemos o inglês, que se diz simples e universal e vemos a realidade piscar-nos o olho como quem nos prova mais uma vez que isto é tão e só uma questão de cultura.
            A situação torna-se ainda mais evidente quando uma aluna de Erasmus nos pede ajuda com o português, que cá em Portugal lhe faz falta para as coisas mais básicas. Ela quer perceber como funciona para nós o verbo “to be”, o que desencadeia uma troca de olhares que pedem ajuda, entre quem fala o português. Como é que se explica a uma pessoa que fala Russo, Alemão e Inglês, que na língua de Camões, o verbo “to be” se desdobra em dois? Já nos tínhamos deparado com a forma como as palavras, os signos com que nos expressamos, variam entre uma e outra língua, não estávamos era preparados para perceber como esta relação pode ser assim tão arbitrária. Cada língua usa as suas próprias palavras para o mesmo significado e isso muda culturalmente, de tal forma que não só temos vocábulos diferentes para a mesma situação como, em alguns casos, culturas ou línguas, podemos desdobrá-los em mais – Segundo Susurre, para o mesmo significado, existem diferentes significandos.
            Assim, percebemos ainda que é a linguagem que divide o real e que para isto, não  há limites.
              

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