Os
programas de intercâmbio são uma realidade cada vez mais frequente e
ambicionada na vida de um estudante. As razões são muitas e, de certo, variam
de pessoa para pessoa. Mais que o intercâmbio só de pessoas ou de
conhecimentos, este tipo de projectos revelam-se um intercâmbio de culturas.
A minha
experiência ainda nunca me enviou a outro país, mas já me coube a mim receber
muitos estrangeiros. E, assim que nos vemos frente a frente, o primeiro obstáculo
a ultrapassar é a língua. Isto cai sobre nós como o aperceber de uma realidade
que no dia-a-dia nem sequer
equacionamos: afinal a fala não é natural como nos parecia quando, lá em casa,
discutíamos este ou aquele assunto com alguém que se expressa oralmente da
mesma forma que nós. A linguagem é do mais cultural que há e é a primeira coisa
que nos diz esta aventura que põe a nu as estruturas, culturais e linguísticas,
sobre as quais caminhamos todos os dias. Escolhemos o inglês, que se diz
simples e universal e vemos a realidade piscar-nos o olho como quem nos prova
mais uma vez que isto é tão e só uma questão de cultura.
A situação
torna-se ainda mais evidente quando uma aluna de Erasmus nos pede ajuda com o
português, que cá em Portugal lhe faz falta para as coisas mais básicas. Ela
quer perceber como funciona para nós o verbo “to be”, o que desencadeia uma
troca de olhares que pedem ajuda, entre quem fala o português. Como é que se
explica a uma pessoa que fala Russo, Alemão e Inglês, que na língua de Camões,
o verbo “to be” se desdobra em dois? Já nos tínhamos deparado com a forma como
as palavras, os signos com que nos expressamos, variam entre uma e outra
língua, não estávamos era preparados para perceber como esta relação pode ser
assim tão arbitrária. Cada língua usa as suas próprias palavras para o mesmo
significado e isso muda culturalmente, de tal forma que não só temos vocábulos
diferentes para a mesma situação como, em alguns casos, culturas ou línguas,
podemos desdobrá-los em mais – Segundo Susurre, para o mesmo significado,
existem diferentes significandos.
Assim,
percebemos ainda que é a linguagem que divide o real e que para isto, não há limites.
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