terça-feira, 27 de novembro de 2012

"Na Terra de Sangue e Mel"




Tendo como pano de fundo a Guerra da Bósnia, que destroçou a região dos Balcãs nos anos 90, o filme Na Terra de Sangue e Mel conta a história de Danijel e Ajla (dois bósnios de diferentes zonas) e de um brutal conflito étnico. Danijel, um agente bósnio/sérvio da polícia e Ajla, uma artista bósnia/muçulmana, estão juntos antes da Guerra, mas a sua relação altera-se à medida que a violência irrompe no território. Algum tempo depois, Danijel surge às ordens do seu pai, o General Nebojsa Vukojevich, como oficial no Exército Bósnio/Sérvio. Ele e Ajla encontram-se face a face quando esta é retirada pelas tropas do apartamento que partilha com a irmã. 
Para defender Ajla das habituais violações de que eram alvo as mulheres muçulmanas, Danijel aprisiona-a num quarto particular, onde a relação vai evoluindo influenciada pelas circunstâncias da guerra. À medida que o conflito vai tomando conta das suas vidas, a relação entre eles muda, os motivos e a conexão entre ambos tornam-se ambíguos e deixam de saber a quem devem lealdade. Na Terra de Sangue e Mel retrata um incrível preço emocional, moral e físico que a Guerra exige ao ser humano, bem como as consequências que derivam da falta de vontade política para intervir numa sociedade abalada pelo conflito.
Por outro lado, a estreia de Angelina Jolie na realização não é, como preconceituosamente se podia esperar, sobre uma temática leve ou fútil. Em causa, está o complicado conflito na Bósnia do início dos anos 90 que, independentemente das diferenças políticas e religiosas entre bósnios muçulmanos, sérvios ortodoxos e croatas católicos, causou feridas tremendas entre vizinhos e amigos de outrora e trouxe um verdadeiro rasto de selvajaria que abalou os princípios mais básicos da humanidade.
Não se trata de uma visão romantizada ou sensacionalista do conflito. Este filme manifesta uma abordagem complexa, mostrando essencialmente a transformação humana sofrida com a barbaridade de todo o acontecimento.
É um filme interessante que comprova que, por trás de uma actriz com carreira em filmes maioritariamente medíocres ou que são meros produtos de consumo massificado, pode estar uma realizadora a ter em conta no futuro. Contextualizo este filme na disciplina de Cultura Visual por vários factores (para além dos que se interpretam do que referi anteriormente), entre eles o facto de ser realizado por uma mulher mas apelar a um "olhar masculino", o facto de retratar alguns dos actos mais cruéis que o ser humano exerce sobre si mesmo (indo contra os princípios básicos que há milhares de anos vem a construir) e pelo misto de culturas e ideologias (que originam tremendos conflitos) separadas por vezes por um mero muro.

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