segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O que temos de fazer, afinal?


A cultura afasta-nos da natureza, no entanto a mesma inteligência que nos caracteriza, os ideais e hábitos culturais fazem-nos frequentemente julgar acções consoante a aproximação ou não que estabelecemos com a natureza. Em particular, quando se trata de assuntos moralmente questionáveis.
Terá o homem uma função natural e definitiva, imposta à sua existência, se até aqui vamos agindo e produzindo cada vez mais segundo necessidades imediatas, que na verdade não são mais do que desejos rápidos e procura pelo conforto ou pela “felicidade”?

Tomando como exemplo a homossexualidade, maioritariamente considerada como característica moralmente errada, em que para tal classificação se argumenta com o afastamento das «leis naturais da vida», do objectivo de procriação, das funções supostas que competem apenas à união de homem e mulher. Por outro lado, se se defende como aspecto inato do indivíduo, mais uma vez será porque não é uma opção voluntária, logo natural e «apta» a ser aceite na sociedade; a adopção de crianças por uma pessoa que viva sozinha, por um casal homossexual ou mesmo o método de fertilização in vitro; questões que tocam as condições de vida e os valores ditos “normais” do homem e da família são continuamente discutidas em redor de como é respeitado o curso da natureza.

Afinal, o que é ser natural? Se é agir de acordo com os comportamentos dos restantes seres vivos, também no reino animal existe homossexualidade, actividade sexual por prazer e não por procriação ou mesmo progenitores que cuidam sozinhos das suas crias. Já alimentos cozinhados, casas em cimento, transportes públicos ou ciência não constam nos hábitos quotidianos dos animais da selva.

“Sem dúvida, o animal também produz. Faz um ninho, uma habitação, como as abelhas, os castores, as formigas, etc. Mas só produz o que é estritamente necessário para si ou para as suas crias; produz apenas numa só direcção, ao passo que o homem produz universalmente; produz unicamente sob a dominação da necessidade física imediata, enquanto o homem produz quando se encontra livre da necessidade física e só produz verdadeiramente na liberdade de tal necessidade. [...] No tipo de actividade vital reside todo o carácter de uma espécie, o seu carácter genérico; e a actividade livre, consciente, constitui o carácter genérico do homem.” (Texto #07, pp.164-165: Karl Marx, “O Trabalho Alienado”, 1993)

Porque é que terá de ser a natureza a dar voz aos preconceitos e ao que os contraria, se não a podemos tomar como modelo literal? Opinião própria, religião ou meio cultural são núcleos próprios do homem, devendo ser a nossa própria origem intelectual a justificar as questões que criamos. 

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