sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A Passagem


Com tantas coisas que se passam no nosso dia-a-dia, são infinitas as ideias e pensamentos que ficam fora do nosso pensamento, mais até, do que as que por lá passaram. Seria necessário uma vida infinita, diria eu, para conseguir pensar nessas infinitas ideias que são rejeitadas todos os dias. Uma delas é a própria questão do tempo, o tempo que leva uma vida, o tempo que levaram todas as outras vidas, todas as vidas que decorrem neste preciso momento, e no outro, e no outro a seguir. Realmente, o tempo há de ser das coisas maiores que existem e, no fundo, intemporal.
O tempo que perdemos a fazer coisas, o tempo que perdemos a pensar em coisas, o tempo que perdemos a pensar no tempo, tudo isto é algo irónico.
Quando pensamos nisso, já alguém pensou no tempo, já alguém perdeu esse tempo a pensar no tempo, já foram criados os segundos, horas, dias, anos, entre tantas outras ordens de medição do tempo.
Pegando num instante, num segundo, até assusta pensar nele, pois já passou! Foi assim, tão rápido, e no entanto tanta coisa aconteceu nesse mesmo segundo. Tanta coisa foi alterada, tantos bebés nasceram, tantas pessoas morreram, tanta coisa aconteceu, tanta coisa acontece, tanta coisa está a acontecer! E essa é a força do tempo! Do passado, do presente e do futuro, sendo que da primeira nada resta senão os pensamentos e as consequências que nos levam ao presente. Este quase que se torna difícil de apreciar, pois está sempre a passar, não para como nos jogos. Aliás, uma das coisas mais angustiantes é olhar para um relógio, não aqueles em que o ponteiro vai avançando segundo a segundo, mas aqueles em que esse mesmo ponteiro está constantemente em movimento, não para, nem mesmo durante um milésimo de segundo, e isso assusta. Não dá para o apanhar, parece que está sempre um passo à frente de nós. Quanto ao futuro, resta-nos aguardar, porque, assim como o presente está sempre a fugir, o futuro está sempre a chegar. Fazem-no de uma forma sincronizada, sempre a passar, sempre à mesma velocidade, sempre ao mesmo ritmo, como uma dança, uma dança que passa por nós, e no fundo, com a qual dançamos toda a vida.


“Estamos sempre no presente, sempre que pensamos nele, a sua espessura vai-se reduzindo.”

João Paulo Queiroz

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