terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O Garfo.


Um nome que se tornou tão banal que já nem interesse suscita. "Mas porque é que esta pessoa agora me vem falar de garfos?" estão vocês a perguntar. Realmente, que interesse é que poderá ter um comentário sobre um utensílio que hoje em dia se usa praticamente em tantos lugares do mundo por tantas classes sociais, várias vezes ao dia? Já quase que faz parte da nossa anatomia. 

Pois é, já alguma vez pararam para pensar qual será a origem do Garfo? Será que alguém acordou de manhã a pensar “vou criar um instrumento de metal, com dentes afiados, que me permita levar a comida do prato até à boca sem ter de sujar as mãos.”?

Pois bem, a história não foi bem assim. Apesar de existirem alguns registos na bíblia de um objecto semelhante cerca de 2001 a.c., O garfo é um utensílio que tem as suas origens na civilização Grega e Romana onde já era um instrumento comum no século IV. Foi, no entanto, o Imperador de Constantinopla, Constantino Ducas, que trouxe o garfo para a Europa. Mas durante largos anos o utensílio foi fortemente criticado pela igreja católica uma vez que fazia lembrar o forcado que a imagem do diabo carregava consigo, chegando mesmo a ser proibido.

Pouco importados, os italianos começaram a criar forte apreço pelo garfo. No século XV o sucesso já andava por Milão e Florença até chegar a quase todas as mesas italianas. No entanto, o garfo só foi popularizado em toda a Europa mais tarde no século XVI quando Catarina de Medici, casada com o Rei Henrique II, introduziu o garfo na corte real francesa, tornando o garfo num símbolo de requinte em todo o continente.

É incrível aperceber-mo-nos do salto, em termos de popularidade, que o garfo deu das mesas reais para as mesas dos povos mais pobres de quase todos os países civilizados. Isto encaixa na perfeição na teoria de alienação de nós próprios proposta por Karl Marx. Uma vez que a imagem que temos de nós próprios vem de fora para dentro, é natural que nos queiramos caracterizar enquanto “eu” através de coisas materiais. Hoje em dia recebemos este chamamento através de publicidade e outras acções de marketing menos evidentes. Mas num tempo em que as palavras publicidade e marketing não existiam, é fascinante como o ser humano já acusava estes padrões de comportamento.

Já naquela altura, a auto-estima das pessoas estava tão fragilizada, que todos procuravam refugiar-se atrás de uma “capa” ideológica, que os tornasse cada vez menos únicos, e cada vez mais parecidos com o que era um consenso comum cultural. Ou melhor ainda, com o que era idolatrado. Numa altura em que a imprensa nem se imaginava, os ídolos eram aqueles socialmente superiores, os aristocratas, que por sua vez idolatravam as cortes que de tudo faziam para se aproximarem delas. O garfo, este, é apenas uma das provas de com nível por nível, este "símbolo de poder" foi descendo as escadas da hierarquia social da época, até popular todas as mesas da Europa Ocidental no Século XVI, permanecendo nelas até aos dias de hoje tornando-se um marco da nossa cultura, uma ideologia que nos é tão óbvia que se tornou invisível.

Naquele tempo como hoje, já dávamos mais importância a coisas do que às pessoas. E hoje temos uma testemunha, que nos acompanha diariamente a todas as refeições, para comprovar toda uma história de comportamentos humanos. 




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