segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

"(...), e a ideia de « descontinuidade » pós-moderna por Gilles Lipovetsky."

A CULTURA PÓS MODERNA " A cultura pós-moderna representa o polo »superestrutural» de uma sociedade que sai de um tipo de organização uniforme, dirigista, e que para o fazer, mistura os últimos valores modernos, reabilita o passado e a tradição, revaloriza o local e a vida simples, dissolve a preeminência da centralidade, dissemina os critérios da verdade e da arte, legitima a afirmação da identidade pessoal de acordo com os valores de uma sociedade personalizada onde o que importa é que o indivíduo seja ele próprio, e onde tudo e todos têm, portanto, direito de cidade e a serem socialmente reconhecidos, sendo que nada deve doravante impor-se imperativa e duradouramente, e todas as opções, todos os níveis, podem coabitar sem contracção nem relegação. A cultura pós-moderna é descentrada e heróclita, materialista e psi, porno e discreta, inovadora e rétro, consumista e ecologista, sofisticada e espontânea, espectacular e criativa; e o futuro não terá sem dúvida, que decidir em favor de uma destas tendências, mas, pelo contrário, desenvolverá as lógicas duais, a co-presença flexível das antinomias. (...) paralelamente aos outros dispositivos personalizados, a cultura pós-moderna é um vector de alargamento do individualismo; diversificando as possibilidadesde escolha, liquefazendo os marcos de referência, minando os sentidos únicos ou por medida, permitindo ao átomo social emancipar-se das balizas disciplinares-revolucionárias." SOCIEDADE PÓS-MODERNA "A sociedade pós-moderna, maneira de dizer inflexão histórica dos objectivos e modalidades da socialização, colocados hoje sob a égide de dispositivos abertos e plurais; maneira de dizer que o individualismo hedonista e personalizado se tornou legítimo e já não depara com a oposição; maneira de dizer que a era da revolução, do escândalo, da esperança futurista, inseparável do modernismo, terminou. A sociedade pós-moderna é a sociedade que reina a indiferença de massa, em que domina o sentimento de sociedade de estagnação, em que a autonomia privada é óbvia, em que o novo é acolhida do mesmo modo que o antigo, e que a inovação se banalizou, em que o futuro deixou de ser assimilado a um progresso inelutável. A sociedade moderna era conquistadora, crente no futuro, na ciência e na técnica; instituiu-se em ruptura com as hierarquias de sangue e a soberania sacralizada, com as tradições e os particularismos, em nome do universal, da razão, da revolução. Este tempo desfaz-se dos nossos olhos; é em parte contra tais princípios futuristas que as nossas de conservação, de descontracção, de realizão pessoal imediata; a confiança e a fé no futuro dissolvem-se, nos amanhãs radiosos da revolução e do progresso já ninguém acredita, doravante o que se quer é viver já, aqui e agora, ser-se jovem em vez de forjar o homem novo. (...) Os grandes eixos modernos, a revolução, as disciplinas o laicicismos, a vanguarda, foram desafectados à força de personalização hedonistas; o optimismo tecnológico e científico desmoronou-se, enquanto as inúmeras descobertas eram acompanhadas pelo envelhecimento dos blocos, pela degradação do meio ambiente, pelo apagamento progressivo dos indivíduos; Já nenhum ideologia política é capaz de inflamar as multidões, a sociedade pós-moderna já não tem ídolos nem tabus, já não possui qualquer imagem gloriosa de si própria ou projecto histórico mobilizador; doravante é o vazio que nos governa, um vazio sem trágico nem apocalipse."

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