segunda-feira, 3 de dezembro de 2012


Alzheimer e Significação


Quando as crianças começam a compreender-se, a significar-se como algo individual, separado do mundo, sentem medo. É algo perfeitamente justificável, todos sentimos medo de estar sozinhos num local desconhecido e, por isso, hostil. À medida que as capacidades de representação do bebé vão aumentando o seu medo e insegurança diminuem. Existir num mundo que se conhece ou, pelo menos, com a segurança de conhecer é apaziguador. Reconhecer as funções, as relações das coisas que nos rodeiam permite uma vivência mais tranquila. 

Estas noções permitem a aproximação ao drama de alguém que padece de Alzheimer. Quando os neurónios morrem progressivamente com eles desvanecem-se também as memórias, começando pelas mais recentes e mais superficiais. As memórias dão significado ao mundo e à própria existência, são elas que nos permitem dizer, eu sei quem sou, ou quem fui, e, eu sei o que aquilo é. Ver-se privado desses significados, é como voltar aos ambientes hostis da infância, é ter de enfrentar o desconhecido permanentemente. É por isso de esperar que estas pessoas tenham comportamentos agressivos e defensivos que se adequam às paisagens em que elas agora se encontram. Os objectos e as pessoas que vêem não têm um correspondente mental, é o mesmo que ve-las pela primeira vez. Essa sensação de surpresa e esse leque de coisas novas vão aumentando de forma assustadora e mundo apaga-se lentamente. 

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