Nasce connosco a capacidade de explorar, nasce
connosco o fascínio por tudo o que é novo e diferente, por tudo o que
de alguma forma nos é estranho e provoca curiosidade, talvez por isso as
pessoas no geral anseiem viajar ate novos territórios e culturas,
interagir com novos povos, comer da sua comida e aprender curiosidades da
sua língua nativa.
Desde a época dos descobrimentos, quando
toda a Europa lutava pela conquista de território novo, que foram muitas
as descrições e relatos de episódios passados durante a corajosa
e difícil tarefa de penetrar o destemido território, todo ele povoado
por bárbaros seres, que apenas pela sua presença visual nos assustam e
imputem respeito. Em todas estas descrições, muitas delas dos dias de
hoje, encontra-se explicito o sentimento de espanto, respeito, medo ou
desprezo por todo um exotismo e excentricidade que estas culturas
transparecem ter. Desde cedo que o Homem ocidental sentiu necessidade de ajudar
estes povos a evoluírem, a saírem das suas primitivas cabanas e
a construírem grandes cidades e urbanizações, a utilizarem dinheiro e
roupas, a uma vida monogamica ou a um trabalho fixo.
Papalagui (de Erich Scheurmann ) é o
nome atribuído ao homem branco por um chefe aborígene samoano,
que após a sua visita á Europa num período anterior à primeira
guerra mundial, elabora discursos à sua tribo, descrevendo o que viu durante
sua viagem.
“O Papalagui mora, como o mexilhão do mar, dentro duma
concha dura. Vive entre pedras, como a escolopendra entre fendas da lava. Tem
pedras a toda a volta, de lado e por cima. A sua cabana assemelha-se a um baú
de pedra posto ao alto; um baú cheio de cubículos e de buracos. (...)”
É desta forma que Tuiavii descreve as sensações que
teve ao viajar pela Europa, e é também assim que quase ridiculariza o
Papalagui, pela sua forma excêntrica de viver, descrevendo-nos com o mesmo
exotismo com que nós descreveríamos a sua tribo, ou qualquer outra que nos
fosse estranha. Para ele a vida do Homem branco não faz sentido, e mostra isso ao
longo dos seus discursos.
Através dos olhos de Tuiavii obtemos a nossa imagem, o
nosso mundo puro e duro, descrito por um olhar livre de preconceitos ocidentais
e livre de uma educação ou raiz cultural que influencie a sua interpretação daquilo
que vê.
Enquanto conotarmos os outros povos como menos
desenvolvidos, não seremos suficientemente hábeis para entender o quão exótica é a nossa cultura e o quão exóticos somos nos próprios. Nós que habitamos
empilhados, em grandes metrópoles nós que nos cobrimos de tecidos, com medo
que alguém veja como somos nus, nós que nos adornamos e encenamos, nós que
fazemos a vida em função de pequenas rodelas de metal, nós que delimitamos o
nosso dia por algo a que chamamos horas, nós, Papalagui, o povo dotado de mais
rituais estranhos e exóticos e da mais excêntrica forma de viver o seu dia a
dia.
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