quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Crises

Ao longo de todo este ano que passou, andou pelas bocas do mundo a palavra 'Crise'.

Andou e anda, pois a situação não parece estar para mudar em tempos próximos, e o vocabulário não muda assim de um dia para o outro.


Crise.

A verdade é que não nos é palavra estranha.
Ao longo dos sucessivos governos e governantes, que trocam de poiso como a maré, ela foi-se tornando lugar comum no léxico dos políticos, dos média e de nos próprios.

"Mas esta agora é mundial!" dizem as pessoas que percebem do assunto.
Sim, a última gota foi à escala mundial.
Com raízes no mundo económico/bancário pouco regulado e selvagem.
(Por muito que agora queiram atirar as culpas para o estado social.)
Mas já há bastante tempo que se ouve falar do perpétuo desarranjo que em Portugal vigora.


Chega-se ao ridículo de em pleno e actual sistema democrático, pelo qual se lutou tanto para obter, constatarmos que ao longo dos anos e dos séculos, tivemos muito poucos responsáveis políticos competentes.

A Monarquía acabou como se sabe.
Com o saudoso Presidente Manuel de Arriaga tivemos uma primeira república decente, seguida de várias de qualidade inferior, algumas das quais de tal maneira bem constituídas que só chegaram a durar um dia.
Atentados para aqui e para ali e muita convulsão social para adoçar a coisa.
Ditadura Militar que é para pôr ordem na coisa.
Logo chega a malta do Estado Novo que só quer trazer paz e calma para toda gente.
União Nacional e tal.
O ministro da Finanças (que até tinha sido seminarista) torna-se o chefão cá da coisa.
E pimbas, Censura! Porque algumas pessoas mal intencionadas e de carácter duvidoso querem estragar o truque aos bons da fita.
Exaltação da pátria, Futebol, Fado e Fátima, e a gente começa a perceber que a coisa é capaz de dar para o torto.
E depois Guerra Ultramarina, porque alguns gajos lá mais em baixo queriam mais poder e isso não podia ser pois Portugal era 'uno, aqui e além Mar!'.
Depois o Chefão lá da cena cai da cadeira, as pessoas pensam que a coisa vai melhorar mas afinal era só ameaça.
As coisas continuam na mesma.
Depois 25 de abril, gente feliz e cravos.... muitos cravos.
Depois o PREC.......(Processo Revolucionário em Curso para quem não sabe.)
A gente rica muda-se toda para o Brasil. Lá há gente mais bonita e de melhores costumes portanto parece razoável.
Decide-se formar a Junta de Salvação Nacional.
A coisa até parece estar a ficar decente mas afinal não dá que os senhores do PREC têm mais que fazer.
Depois fica-se a beira da guerra civil, mas o general Ramalho Eanes não quer e a coisa fica para depois.
Depois o general Ramalho Eanes deixa de ser general e passa a ser Presidente da República.
O Sr. Mário Soares também quer uma coisa assim dos estilo do Sr. Eanes e torna-se Primeiro Ministro.
O FMI é chamado a intervir pela primeira vez em Portugal.
Depois o Sr. Sá Carneiro lá consegue pôr toda a gente à direita a dizer que sim e que não ao mesmo tempo e forma a AD.
Torna-se Primeiro Ministro.
A gente rica começa a voltar porque a coisa cá afinal não é tão má como se pensava e também há gente bonita de vez em quando.
O avião do Sr. Sá Carneiro explode e ele deixa de ser Primeiro Ministro.
O Sr. Pinto Balsemão torna-se Primeiro Ministro durante um bocado.
O Sr. Mário Soares acha que uma vez só não chega portanto volta a ser primeiro ministro formando o Bloco Central...
O FMI é mais uma vez chamado a intervir em Portugal, porque afinal não ficou tudo como deve de ser na primeira vez.
Pouco depois o Sr. Cavaco Silva não quer ficar atrás do Sr. Mário portanto torna-se primeiro ministro também.
O Sr. Mário Soares ao ver o Sr. Silva a encurtar distância, decide tornar-se Presidente da República.
Portugal junta-se a UE.
O cofres de portugal ficam de repente um pouco mais cheios.
Começam a surgir Auto-estradas e rotundas por todo o lado. Fenómeno inexplicável.
Os caminhos de ferro começam a desaparecer. Fenómeno igualmente inexplicável.
A agricultura portuguesa e a frota pesqueira desaparecem e ninguém sabe para onde foram nem se voltam em breve.
Os cofres portugueses começam a não tar tão pesados.
O Sr. António Guterres acha que já chega e diz que é tempo de haver alguém que leve o país por melhores caminhos e torna-se primeiro ministro também.
O partido do Sr. António Guterres não concorda e decide fazer-lhe a vida negra, levando-o à demissão a meio do segundo mandato.
Entretanto o Sr. Sampaio como quem não quer a coisa torna-se Presidente da República.
O Sr. Durão Barroso, que antes era de extrema esquerda, afinal é homem de direita e torna-se primeiro ministro.
Estádios de futebol aparecem subitamente por tudo o lado. Outro fenómeno.
Mais estradas.
Os cofres portugueses ficam mais esbeltos
O Sr. primeiro ministro do Luxemburgo rejeita o convite para presidente da comissão Europeia porque acha que tem um dever a cumprir para com o povo que o elegeu.
O Sr. Durão Barroso não é da mesma opinião.
Apresenta a demissão ao Presidente Sampaio, deixa cá o Sr. Santana Lopes e emigra para Bruxelas.
Parece que, segundo ele "o país tava de tanga".
Euro 2004, em que perdemos na final com a grandiosa equipa Grega....
O Sr. Santana Lopes não dura um ano e é demitido pelo Presidente Sampaio porque a coisa não tava a dar.
O Sr. Sócrates ganha duas vezes.
A meio insulta a tia de um deputado não me lembro bem porque.
O Sr. Cavaco Silva apanha finalmente o Sr. Mário Soares, e torna-se Presidente da República.
Mais estradas, rotundas, e centros de saúde que ninguém usa.
Vem-se a saber que ao conteúdo dos cofres de portugal aconteceu coisa semelhante à que já tinha acontecido aos caminhos férreos, à agricultura e à frota pesqueira.
O FMI é mais uma vez chamado.
O Sr. Sócrates culpa o governo anterior.
A oposição culpa o Sr. Sócrates.
O Sr. Sócrates apresenta um plano chamado PEC 4, que é para tentar emendar a coisa.
A oposição não gosta e chumba o PEC.
O Sr. Sócrates demite-se porque não tem condições.
Depois volta a candidatar-se.
E perde para com o Sr. Coelho.

E.....

Bom esta parte já conhecemos.
A oposição de esquerda culpa o actual governo de direita, que por sua vez culpa o anterior governo de esquerda.
Os jovens culpam os velhos por terem deixado a coisa chegar onde chegou;
e os velhos culpam os jovens pela sua incompetência e ignorância.

Os dois maiores partidos perecem sob o peso dos seus próprios interesses, que ao longo dos anos foram alimentando, desperdiçando sucessivas oportunidades de melhorar o país, acabando por se tornarem indistinguíveis um do outro.

Nenhum dos outros partidos se apresenta como alternativa.
O PCP tarda em se distinguir do comunismo que levou a União Soviética, a Coreia do Norte e a China a ditaduras repressivas e autoritárias.
O BE nunca apresenta propostas realistas, escolhendo apenas criticar tudo e todos.
O CDS das poucas vezes que teve no governo decidiu tornar-se replica do PSD e alimentar as suas hostes (aliás como se pode testemunhar).

Há aqueles que consideram que é o próprio sistema que está errado e que se devia repensar a coisa.
Há aqueles que não, que as coisas foram é mal executadas, mas que o sistema está bem.


E ficamos assim?
A entristecer. 
Umas vezes melhor, outra vezes pior?
Nesta nossa perpétua crise, que dura já à gerações, esperando que ventos melhores nos levem a melhores portos?


Uns tantos dizem não! Que querem deitar tudo abaixo, num ataque de fúria.
Outros tantos querem deitar tudo abaixo porque lhe dá gozo.
Outros acham que não.
Outros acham que sim.
Há ainda outros que acham tudo.
E outros que não acham nada.

E ficamos então assim.
Todos têm razão.
Ninguém ganha.
Também ninguém perde, não é?
Empate técnico.
Ninguém é responsabilizado.
É melhor assim.
Não há maus.
Mas também não há bons.
Nem Preto.
Nem Branco.
O Cinzento torna-se moda e o Arco-iris, insulto.







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