segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

As mil e uma noites


Sherazade foi, segundo reza a lenda, uma das amantes do rei Xeriar, que a cada dia despozava uma virgem que mandava assassinar no dia a seguinte.
Na noite em que estava planeada a sua morte, determinada a mudar o seu destino, Sherazade elabora uma história que dura até ao amanhecer e que cativa o rei ao ponto de este esperar durante mil e uma noites o final da sua história. Durante essas noites, a esposa do rei vai elaborando o seu conto, adicionando aventuras que  o "prendiam" e lhe suscitavam um interesse cada vez maior.
Na última noite de histórias maravilhosas, Sherazade, já com três filhos do rei, implora pela sua vida e, extremamente admirado com a inteligência e dedicação da sua esposa, o rei faz dela sua rainha definitiva.

Esta história repete-se nos tempos que correm, não com reis e rainhas, mas com actores e actrizes que dão vida a telenovelas. Todas as noites temos uma pequena, e quando digo pequena refiro-me mais propriamente a uma ínfima mostra de uma história feita de mastigações, com o objectivo de durar meses e meses.
Chega a uma determinada altura em que o observador se apercebe de que a telenovela praticamente não avança, que tem mais o objectivo de "encher chouriços" do que desenvolver a história em si. Mas será por isso que se muda de canal? Com certeza que não. O espectador (tirando algumas excepções) sente-se atraído pelo desconhecido, pelo que poderá acontecer e no fundo tem medo de perder uma parte emocionante da história. Tal como o rei Xeriar, os telespectadores cumprem o seu ritual de sofá, a seguir ao jantar, aguardando a história da noite.
Adoptamos um papel exterior à acção, de simples observador, que através da emoção visionada vive a cena como se fosse real para si. Por conseguinte o homem "corta" nas acções que pratica em prol de arranjar tempo para visionar a vida e as acções dos outros. Em média os adolescentes vêem mais de cinco horas de televisão por dia, tempo esse que podiam ocupar a elaborar e a experienciar situações novas.

. Emoção visionada;

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