Sherazade foi,
segundo reza a lenda, uma das amantes do rei Xeriar, que a cada dia despozava
uma virgem que mandava assassinar no dia a seguinte.
Na noite em
que estava planeada a sua morte, determinada a mudar o seu destino, Sherazade
elabora uma história que dura até ao amanhecer e que cativa o rei ao ponto de
este esperar durante mil e uma noites o final da sua história. Durante essas
noites, a esposa do rei vai elaborando o seu conto, adicionando aventuras que
o "prendiam" e lhe suscitavam um interesse cada vez maior.
Na última
noite de histórias maravilhosas, Sherazade, já com três filhos do rei, implora
pela sua vida e, extremamente admirado com a inteligência e dedicação da sua
esposa, o rei faz dela sua rainha definitiva.
Esta história
repete-se nos tempos que correm, não com reis e rainhas, mas com actores e
actrizes que dão vida a telenovelas. Todas as noites temos uma pequena, e
quando digo pequena refiro-me mais propriamente a uma ínfima mostra de uma
história feita de mastigações, com o objectivo de durar meses e meses.
Chega a uma
determinada altura em que o observador se apercebe de que a telenovela
praticamente não avança, que tem mais o objectivo de "encher
chouriços" do que desenvolver a história em si. Mas será por isso que se
muda de canal? Com certeza que não. O espectador (tirando algumas excepções)
sente-se atraído pelo desconhecido, pelo que poderá acontecer e no fundo tem
medo de perder uma parte emocionante da história. Tal como o rei Xeriar, os
telespectadores cumprem o seu ritual de sofá, a seguir ao jantar, aguardando a
história da noite.
Adoptamos um
papel exterior à acção, de simples observador, que através da emoção visionada
vive a cena como se fosse real para si. Por conseguinte o homem
"corta" nas acções que pratica em prol de arranjar tempo para
visionar a vida e as acções dos outros. Em média os adolescentes vêem mais de
cinco horas de televisão por dia, tempo esse que podiam ocupar a elaborar e a
experienciar situações novas.
. Emoção visionada; |
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